EPPGG aponta riscos para Sul Global em estratégia de Trump para IA
Em texto no Outras Palavras, o EPPGG James Görgen discute a estratégia de inteligência artificial recém-anunciada pelos Estados Unidos – o America’s AI Action Plan. Embora apresente uma retórica que, à primeira vista, pareça defender valores universais comuns para uma IA que sirva a todos os países, o documento também pode ser lido como mais uma ameaça de ação hegemônica dos Estados Unidos sobre os países do Sul Global, “principalmente, para as nações que, como o Brasil, estão buscando uma via independente e soberana às duas forças que competem pela liderança em IA globalmente”, ressalta o EPPGG.
O documento, explica Görgen, se trata de um plano protecionista e intervencionista, como várias das medidas do segundo mandato de Trump. Ela traz riscos e desafios estruturais principalmente para estados nacionais da região. “Ao defender uma abordagem mais liberal para seu plano e buscar equidade com outras jurisdições, podem acabar preponderando os normativos, padrões, modelos e plataformas já consolidados pelos EUA, criando dependência tecnológica e cerceando a soberania digital, com o intuito de reduzir as outras nações a meras consumidores de tecnologia”.
Outro ponto de atenção é a criação de infraestruturas compartilhadas e bases comuns de dados. Segundo o EPPGG, tais propostas podem ampliar ainda mais o acesso das grandes empresas norte-americanas a dados gerados nos países com menor capacidade tecnológica instalada, “aumentando o colonialismo de dados – onde a riqueza extraída da economia digital não retorna às sociedades geradoras da informação – e anabolizando o poder econômico das big techs, que já possuem predomínio exacerbado nos serviços de processamento da chamada computação em nuvem e tendem a se estender para IA”.
Por fim, pontua Görgen, fica claro no plano que os Estados Unidos traçaram rumos para que o país mantenha a dianteira em relação à China na corrida da tecnologia. Isso pode significar riscos geopolíticos para países em desenvolvimento, particularmente aqueles que não compartilham os interesses estratégicos dos Estados Unidos.
Em relação ao Brasil, o autor aponta que o grupo de trabalho que implementa o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), coordenado no âmbito do CIT-Digital, precisa se debruçar sobre este documento para descobrir a melhor forma de buscar o diálogo, sem que necessite haver um alinhamento automático a um plano pouco democrático e que visa reenquadrar a região como “quintal” norte-americano na agenda digital.