Para BBC, ANESP reafirma importância da política de testagem para controlar covid no Brasil
A ANESP foi ouvida em detalhada reportagem da BBC News Brasil que abordou a escassez de teste de covid-19 no Brasil e o impacto disso frente à alta transmissibilidade da variante ômicron. O texto também relata como o fornecimento de testes está se dando em outros países, e debate a política de testagem e a aprovação de autotestes no Brasil. A repórter Paula Adamo Idoeta conversou com vários especialistas, entre eles, Celina Pereira, EPPGG, vice-presidente da ANESP e membro do Observatório Covid-19 BR.
A matéria buscou entender o que está por trás de uma situação que virou comum: pessoas peregrinando por farmácias, laboratórios ou unidades de saúde, numa busca - nem sempre bem-sucedida - por testes de covid-19, em meio ao avanço da ômicron. Segundo especialistas, tanto uma oferta global insuficiente de testes e insumos para atender o aumento da demanda, quanto problemas e limitações na estratégia de testagem do Brasil explicam o problema.
A Abrafarma, associação que reúne as 26 maiores redes farmacêuticas do país, afirmou, em nota, que foram feitos 482,1 mil testes entre 3 e 9 de janeiro - um recorde e um aumento de 70% em relação à semana anterior. Sem testar o suficiente, e no rescaldo de um apagão de dados do Ministério da Saúde, o Brasil fica ainda mais no escuro no enfrentamento à pandemia, tanto no âmbito individual quanto no coletivo.
O Plano Nacional de Expansão de Testagem contra Covid-19, lançado em setembro do ano passado, previa a entrega de 60 milhões de testes de antígeno, quantidade que já era insuficiente desde o início, dado o tamanho da população brasileira, opina Celina Pereira, vice-presidente da ANESP e professora e pesquisadora universitária de políticas públicas na Universidade de Brasília.
"Hoje a gente sabe que pessoas com sintomas ou que tenham tido contato com infectados precisam ser testadas diariamente, porque sua carga viral pode mudar". Alguém que testou negativo em um dia pode acabar testando positivo no dia seguinte, explica.
Pesquisa do Datafolha feita entre 12 e 13 de janeiro identificou que 8,1 milhões de brasileiros não haviam conseguido encontrar testes em farmácias ou unidades de saúde nos 30 dias anteriores. Trazendo novas pistas sobre o tamanho da subnotificação da covid-19 no país, a mesma pesquisa apontou que 42 milhões de brasileiros disseram ter se infectado com o coronavírus desde o início da pandemia - quase o dobro da cifra oficial, que contabiliza 23 milhões de infecções desde março de 2020.
O Brasil "ainda padece de uma limitação essencial: uma política universal de testagem em escala suficiente para atender a maioria da população", e "aperfeiçoar o plano nacional de testagem é uma medida de extrema urgência neste momento", afirma uma nota enviada ao Ministério da Saúde e à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) pelo Observatório Covid-19 BR, pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e pela ANESP.
A nota sugere compra e distribuição de testes diretamente à população, via SUS, e a liberação dos autotestes, junto a orientações ao público sobre como usá-lo e reportar seu resultado.
O impasse sobre os autotestes
Nesta quarta-feira (19), a Anvisa se reuniu para discutir a liberação dos autotestes, mas acabou decidindo pedir mais esclarecimentos ao Ministério da Saúde a respeito de que maneira esses exames farão parte da política de testagem do país.
Procurado na quarta-feira, o Ministério da Saúde informou que irá se manifestar no prazo dado pela agência, que é de 15 dias.
"O receio é que (nesse intervalo de tempo) se perca o senso de urgência de algo que é para ontem", adverte Celina Pereira, da ANESP.
Isso, porque o uso massificado de testes de antígeno - cujo resultado sai rapidamente, em 15 minutos - "tem a função de cortar a cadeia de transmissão do coronavírus, sobre a qual nós perdemos o controle". Ou seja, com um resultado rapidamente em mãos, as pessoas podem tomar medidas mais rápidas a respeito da necessidade ou não de se isolar, evitando o contágio de pessoas ao seu redor, algo que seria particularmente importante no atual estágio de número recorde de casos, diz Pereira.