No Intercept, EPPGG alerta para riscos da dependência tecnológica
Foto: Agência Brasil
O EPPGG James Görgen publicou artigo no Intercept Brasil em que aponta os riscos da dependência que governos – de distintos matizes ideológicos – têm criado em relação a (poucas) empresas de tecnologia. A partir da experiência do projeto Authoritarian Stack, iniciativa que mapeou os modos com que um conjunto de empresas de tecnologia e seus aliados financeiros estão efetivamente privatizando funções estatais nos Estados Unidos por meio de uma arquitetura integrada de poder, Görgen denuncia o que ele chama de “tecnoligarquia”:
“Diferente do autoritarismo clássico, que depende de mobilização de massa e coerção explícita, esta nova forma de poder atua por meio da criação de dependência infraestrutural e da coordenação financeira, deslocando o centro da soberania do estado para conselhos de administração corporativos e seus fundos de investimento. É a materialização da tecnoligarquia em ação”, escreve.
Para exemplificar, o autor cita o caso da empresa Palantir e sua relação com o exército estadunidense, caso simbólico que mostra como, através de consolidações contratuais e da profunda integração técnica, agências estatais tornam-se cativas de plataformas proprietárias, em uma espécie de “lock-in infraestrutural”. “Essa dependência não apenas dificulta a substituição de fornecedores, mas também obstrui a auditoria pública e a soberania tecnológica do Estado”.
No caso brasileiro, Görgen relembra a chegada no País da Palantir durante o governo Bolsonaro, por meio do Better Health Programme, conforme documentado pelo Laboratório de Políticas Públicas e Internet (Lapin) e pelo Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes): “De forma notável, a parceria foi renovada em outubro de 2025 pela nova gestão, sinalizando como a dependência infraestrutural e a lógica da eficiência técnica podem transcender alinhamentos ideológicos de governos. Da mesma forma, a Starlink firmou múltiplos contratos com órgãos públicos brasileiros, da defesa à educação, consolidando sua presença em áreas estratégicas”.
Para o EPPGG, tais exemplos demonstram que o fenômeno não é restrito aos EUA – trata-se, antes, de um modelo de governança exportável que opera de forma eficaz em diferentes contextos políticos, muitas vezes sob o verniz da modernização e da cooperação internacional. Simultaneamente, aponta, “a integração organizacional aprofunda esses laços, com a nomeação de executivos do setor privado para postos estratégicos em estruturas militares, de segurança e de ciência e tecnologia, além da proliferação de parcerias público-privadas que dissolvem as barreiras institucionais entre os interesses corporativos e as funções estatais”.