No GGN, EPPGG discute projeto tecnológico para o Brasil
Em artigo publicado no GGN, o EPPGG James Görgen, em coautoria com Sérgio Bampi, pesquisador do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), debate um projeto tecnológico para o Brasil, a partir de uma análise da conjuntura internacional. Em um apanhado histórico, os autores apontam como os Estados Unidos criaram obstáculos desde cedo para a exportação de insumos estratégicos – a primeira lei nesse sentido é de 1949.
A escalada derradeira, constatam, ocorre ao final do governo Biden, com a criação de faixas e cotas para fornecimento de chips e de placas eletrônicas com chips avançados, especialmente dos chips otimizados para tarefas de IA, através do Framework for AI Diffusion, e as novas regras contra a China determinadas pela atual administração do presidente Donald Trump. “Atualmente, qualquer encomenda de semicondutores de uma empresa brasileira a fabricantes chineses, por exemplo, precisa passar por intermediários estrangeiros que se submetem aos controles da União Europeia e do BIS [Bureau of Industry and Security]”.
Nesse contexto, os autores especulam formas de o Brasil ganhar maior autonomia, listando três frentes de atuação: “Primeiro, parcerias para dominar a ‘impressão’ de circuitos integrados de alta resolução nanométrica, usando várias passagens (chegando a 14–10 nanômetros) sem depender das máquinas mais raras e caríssimas de litografia por EUV extrema, além de produzir memórias de alto desempenho de nível intermediário. Segundo, montar uma coalizão de pesquisa em métodos alternativos de impressão – incluindo técnicas sem máscara para laboratório – e criar, na região, equipamentos de apoio (de medição, de gravação dos padrões e de polimento fino) e uma base local de insumos químicos. Por fim, lançar um fundo público combinado com compras governamentais garantidas para impulsionar novas empresas que fabriquem o ‘lado invisível’” que faz a fábrica funcionar: manifolds, válvulas, instrumentos de medição e outros equipamentos auxiliares”.
Görgen e Bampi argumentam que este mapa, embora não esgote as possibilidades de ação, indica o percurso de uma estratégia com “alguma autonomia e norte decisórios”, capaz de trazer resiliência pela diversificação de elos, estoques, empacotamento avançado e certificação multi-fornecedor.
“Mais do que buscar autossuficiência, o desafio é construir resiliência inteligente – com parcerias estáveis, diversificação de fornecedores e uma política industrial que sobreviva aos ciclos de governo. O Brasil tem a chance de sair da posição de espectador e se tornar ator soberano relevante em uma cadeia que moldará o futuro da economia digital por décadas. E, que só fez acelerar o progresso recente da economia. Para isso, é preciso visão de longo prazo, continuidade e coragem para investir onde ainda há tempo de fazer diferença”, concluem.