36 anos da ANESP: uma história de luta por justiça

Elizabeth Hernandes, presidenta da ANESP

A ANESP é um sindicato fiel à etimologia da palavra “sindicato”, cuja origem remete ao grego antigo “sýndikos” e significa “aquele que defende a justiça”. A palavra sindicato, assim como outras do vocabulário progressista, tem sido um tanto deturpada nos últimos tempos, e a própria ideia de defesa de direitos de trabalhadores/as também tem sofrido reveses. A guerra de narrativa substitui “trabalhador” por “colaborador”; trabalhador precarizado por “empreendedor” – e há muito capital para financiar essas lucrativas falácias (lucrativas para uma minoria, que fique claro).

A ANESP foi fundada em um contexto de luta por justiça: a primeira turma de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental (EPPGG), após dois anos de formação, corria o risco de simplesmente deixar de existir. Os EPPGGs são trabalhadores escolarizados, qualificados – mas trabalhadores. Um trabalhador isolado, por mais qualificado ou escolarizado que seja, pode pouco. Trabalhadores organizados, por mais frágeis que sejam suas ocupações ou que estas demandem baixa escolarização, sempre representarão uma força política.

A formação do EPPGG coloca este profissional frente a frente com a realidade das políticas públicas do Brasil. Mesmo estando na esfera federal, os EPPGGs são “burocratas de ponta”, aqueles que entregam políticas e serviços à população. Ninguém consegue fazer uma entrega sem dar de cara com aquele que demanda o serviço, portanto, enxergar a população é parte inseparável do trabalho.

Por formação teórica e por experiência de trabalho, o EPPGG não tem como escapar de conhecer a importância do papel do Estado e a preciosidade (e também a fragilidade) do Estado Democrático de Direito.

Nesse contexto de ser “obrigado” a lidar com dados de um País fundado a partir de colonização predatória e economia escravocrata, o EPPGG não pode ignorar a realidade brasileira. E tampouco pode se valer das mazelas históricas, pois ele está ali justamente para construir um presente melhor e permitir projeções de futuro. As principais políticas sociais implantadas desde a redemocratização do Brasil têm a participação massiva de EPPGGs e, nos anos recentes, quando a democracia parecia estremecer, a ANESP liderava movimentos de resistência como o que foi feito diante da PEC 32, que propunha uma reforma do Estado sem o Estado e com a precarização dos vínculos de trabalho. Diversas iniciativas foram desenvolvidas, em especial a plataforma “Que Estado Queremos”, que tinha como objetivos combater a desinformação sobre a Reforma Administrativa; fomentar a discussão sobre o futuro do Estado e do serviço público, envolvendo diferentes setores da sociedade; e dar voz aos servidores públicos.

Quando o Brasil se defrontou com a pandemia de covid-19 e o governo de turno desprezou as evidências científicas e questionou uma tecnologia de saúde desenvolvida desde o século XVII, que é a vacinação, a ANESP se dedicou a iniciativas como a sistematização de conhecimento a partir da carreira de EPPGG com o livro “Políticas Públicas – Análises e Respostas para a Pandemia”, além de ter sido atuante na Campanha #Todospelasvacinas, entre outras ações. Enfim, são muitos os exemplos que podem ser citados, mostrando que em boa parte da história deste Sindicato, ele esteve na luta por democracia e justiça social, sem deixar de defender os interesses dos associados e das associadas, até porque não se trata de interesses opostos. Não há, jamais, conflito de interesse entre servidores públicos valorizados, Estado forte e a ANESP, por princípios e em princípio, ao defender a justiça.


ÚLTIMAS NOTÍCIAS