Entrevista com o gestor governamental Sylvio Kelsen Coelho

O Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental Sylvio Kelsen Coelho fala sobre a carreira e sua atuação como gestor governamental em entrevista concedida à ANESP.

Sylvio Kelsen é chefe de gabinete do ministro chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Franklin Martins, tendo trabalhado na execução do projeto de criação da TV pública federal, a Empresa Brasil de Comunicação.

1. Como você visualiza a carreira de EPPGG?

Considero que nossa carreira está em passando por um processo de institucionalização que tende a se acelerar. A permanência de concursos, a valorização remuneratória e os incentivos ao aperfeiçoamento contínuo não são somente evidências desse processo. Funcionam também como catalisadores. Ainda há, entretanto, muito a ser feito. Entendo que os procedimentos de recrutamento de novos membros da carreira podem evoluir. O processo seletivo deve ser desenhado para identificar candidatos com perfil de executivos do setor público, com capacidade propositiva sobre os problemas com os quais lidamos cotidianamente. O método atual parece-me acadêmico em excesso. Também precisamos melhorar procedimentos de avaliação de nosso desempenho. Com isso, e com as ações de promoção executadas pela ANESP, que acredito sejam sua principal função, poderemos avançar na realização do potencial de nossa carreira, a serviço da cidadania.

2. Qual a importância de seu trabalho enquanto gestor?

Tanto quanto muito provavelmente todos os meus colegas de carreira, boa parte do meu tempo é consumido com atividades decorrentes do fato de que somos funcionários do Estado, a serviço dos governos, sendo, ao mesmo tempo, o último nível técnico e o primeiro político da burocracia. Minha responsabilidade é contribuir para que o dirigente político tome decisões suficientemente bem informadas, inclusive do ponto de vista ético, e que elas sejam implementadas de maneira eficiente, para produzir os resultados previstos. Não é, entretanto, um trabalho solitário. Pertenço a times variados de acordo com natureza e os objetivos das decisões. Acredito que meu trabalho, na atualidade, seja relevante na medida em que colaboro para que a sociedade esteja cada vez mais bem informada a respeito da ação governamental, fomentando assim o julgamento democrático por parte do povo brasileiro, valor caríssimo à nossa democracia.

3. Conte um pouco sobre sua trajetória como EPPGG.

Faço parte da IV turma, que tomou posse há quase 11 anos. Meu primeiro exercício descentralizado deu-se no Ministério do Trabalho e Emprego, onde cuidei por cerca de 4 anos de negociações internacionais em fóruns como a OMC e de nível hemisférico. Também produzia textos institucionais. Migrei para o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e assumi a direção do Projeto EuroBrasil 2000, uma iniciativa que visou contribuir para o aperfeiçoamento institucional do Estado brasileiro, experiência de cerca de 2 anos. Após outros 2 anos cedido para a Câmara dos Deputados, retornei ao Poder Executivo e hoje exerço a chefia de gabinete do ministro chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. Nossa mobilidade garante-nos muitas possibilidades. Procuro exercê-la com parcimônia, escolhendo os desafios mais interessantes, e disso tenho extraído conhecimentos valiosos não somente para meu crescimento profissional como também para minha vida pessoal.

4. Cite um desafio ou projeto relevante em que tenha se envolvido recentemente.

Estive bastante envolvido na execução do projeto de criação da TV pública federal, a Empresa Brasil de Comunicação, a EBC. Ter sido membro do grupo de trabalho responsável pela constituição da nova empresa, da incorporação da extinta Radiobrás à EBC, e de sua organização interna, inclusive e especialmente da parte mais inovadora da iniciativa, a institucionalização da participação da sociedade por meio de um conselho curador com poderes relativamente amplos até sobre sua programação, foi um desafio enorme. Sua superação, entretanto, foi um grande aprendizado sobre administração, pública e privada, comunicação social pública e relações institucionais.

5. Quais são suas perspectivas como gestor e para a carreira?

Minhas perspectivas como gestor estão completamente vinculadas ao futuro da carreira. E eu acredito que as perspectivas são boas. Tenho acompanhado as discussões sobre a carreira, tanto as promovidas pelo órgão gestor da carreira quanto aquelas promovidas pela ANESP. São iniciativas bastante importantes para, se não eliminar, pelo menos reduzir o grau de dispersão das expectativas dos membros sobre a carreira. Produzir convergências é importante para tornar mais eficazes e efetivas as ações de promoção da carreira. Mas precisamos atuar ainda mais estrategicamente. É importante manter a carreira na vanguarda. Tenho argumentado, por exemplo, que já há oportunidade e maturidade na Administração Pública, de um lado, e, membros da carreira com conhecimento e experiência adequados, de outro, para atuarem como consultores internos.