Setor público mais produtivo

Ipea mostra que ganhos da União, estados e municípios entre 1995 e 2006, de 14,7%, superaram os da iniciativa privada, de 13,5%

A estabilidade monetária impulsionou o setor público mais do que a iniciativa privada. Embora desde a implantação do Plano Real ambos tenham avançado, no período entre 1995 e 2006 o índice de produtividade da máquina burocrática — União, estados e municípios — bateu o das empresas: 14,7% contra 13,5%. O resultado surpreendente faz parte de um estudo divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O grande salto dos dois segmentos ocorreu de 1995 a 1997. A expansão econômica do país contaminou praticamente todas as atividades estatais e particulares. Em 1998, a produtividade tanto da administração pública quanto do setor privado desabou, mantendo-se praticamente estagnada até 2005. Outra evolução, ainda que discreta nas taxas, aconteceu em 2006. Naquele ano, a produtividade no setor público foi 46,6% superior a do setor privado.

Para concluir que o rendimento acumulado pelo Estado foi superior ao da iniciativa privada, os técnicos do Ipea cruzaram informações sobre população, Produto Interno Bruto (PIB) e pessoal ocupado. A razão entre o valor produzido e o número de trabalhadores dedicados à atividade indicou o percentual de produtividade. No levantamento, os especialistas destacaram que a metodologia não é algo simples de ser desenvolvida devido à imensa quantidade de informações disponíveis.

Na avaliação do Ipea, os ganhos verificados na administração pública se devem, em grande parte, à adoção de uma “nova lógica burocrática”. O avanço das tecnologias da informação, a modernização dos processos licitatórios e de compras governamentais, além da informatização dos sistemas previdenciário e fiscal teriam repercutido de forma decisiva nas melhorias das taxas de produtividade do setor público. A renovação do quadro de pessoal também é apontada como fator positivo. “Os concursos públicos estão permitindo à administração atrair o que há de melhor no Brasil”, resumiu Marcio Pochmann, presidente do Ipea.

Choque de gestão

O trabalho considerou ainda o desempenho de regiões do país. Nordeste e Centro-Oeste registraram altas expressivas — 39,8% e 49,3%, respectivamente — entre 1995 e 2004. No Sul, Norte e Sudeste houve recuos na taxa de produtividade acumulada. O movimento desigual tem relação com o avanço do setor privado em maior escala e com o crescimento da economia atrelada a uma melhor distribuição da renda do trabalhador.

Em relação aos estados, o Ipea elaborou um ranking de produtividade. A constatação geral é que reformas administrativas nos moldes de choque de gestão não trouxeram grandes ganhos de produtividade. Na lista que reúne todas as unidades da Federação, Roraima apresentou a maior evolução da produtividade entre 1995 e 2004 (136,6%). O Distrito Federal ficou em segundo lugar (91,3%). São Paulo ficou na 21ª posição, Rio de Janeiro na 23ª e Rio Grande do Sul na 24ª. O último estado do país, de acordo com a classificação feita pelo instituto de pesquisa, foi o Pará.

Fonte
Correio Braziliense – 20 de agosto de 2009