Transmissão, gravidade, reinfecção e precaução: o que sabemos sobre a variante Ômicron
O surgimento de uma nova variante do coronavírus, a Ômicron, detectada inicialmente na África do Sul levanta dúvidas e incertezas sobre o risco de uma nova onda de covid-19 no Brasil. A Ômicron já foi identificada em países como Reino Unido, Alemanha, Itália, Austrália, República Tcheca, Israel, Bélgica, Honk Kong e Botsuana. No Brasil, foram 3 casos até o momento.
Conversamos com o EPPGG Claudio Maierovitch, médico epidemiologista e ex-presidente da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Ele apresenta as informações mais recentes que se tem sobre a ainda pouco conhecida variante e indica caminhos para se prevenir um novo aumento de casos de covid-19.
O que sabemos sobre a variante Ômicron? Ela é mais transmissível? Ela causa sintomas mais graves?
Claudio Maierovitch: Por enquanto temos poucas informações. Há algumas hipóteses levantadas a partir das características observadas em laboratório. É a variante que apresentou maior número de mutações até agora. São mais de 50, sendo 32 na proteína que caracteriza o comportamento do vírus e é usada por várias vacinas para estimular a produção de anticorpos. Por isso, há uma grande preocupação de que as vacinas atuais possam não funcionar tão bem. Também há indícios, a partir de dados gerados na África do Sul, de que a variante Ômicron pode ser ainda mais transmissível do que a Delta, que era a mais preocupante até agora. Não há relatos ou informações que sugiram maior gravidade da doença.
Quem já teve covid pode ser reinfectado por ela?
Claudio Maierovitch: Ainda não há informações sobre o quanto a imunidade conferida por uma infecção anterior por outra variante pode proteger contra a infecção pela variante Ômicron. Com as variantes que já circulam, têm sido observados casos esporádicos de reinfecção, teme-se que sejam mais frequentes com a nova variante.
As vacinas atuais vão funcionar contra ela?
Claudio Maierovitch: Ainda não é possível saber como será a eficácia das vacinas em uso contra a infecção pela variante Ômicron. Pode ser que algumas funcionem bem e outras não. Os testes estão em fase inicial para obter tais respostas. Sabe-se que algumas das pessoas que tiveram diagnóstico de infecção pela variante Ômicron tinham recebido o esquema vacinal completo, mas isso pode acontecer também com as demais variantes.
Como o Brasil pode se preparar para conter a circulação da nova variante? Estamos mais protegidos neste momento do processo de imunização da população?
Claudio Maierovitch: Infelizmente, o governo federal brasileiro opôs-se à maior parte das medidas de prevenção. A resposta baseia-se quase exclusivamente na vacinação, que começou muito lentamente e há algumas semanas atingiu um ritmo satisfatório. Precisamos garantir que todos estejam vacinados, desenvolver amplas campanhas de esclarecimento e convocação da população para receber os imunizantes. A comprovação de vacina deve ser exigida de viajantes e também de todos que desejem frequentar ambientes ou participar de atividades coletivas. Além disso, é importante suspender os eventos que aglomeram pessoas, em especial as festividades previstas para o fim de ano e carnaval. O uso de máscaras de boa qualidade continua sendo uma das principais medidas para conter a transmissão. Afora tudo isso, é preciso facilitar a testagem da população, com sintomas ou não, para que cada um possa se orientar para fazer isolamento e proteger seus convivas. Uma boa experiência que tem havido em vários países é a do fornecimento de autotestes, que podem ser feitos por quem acha que esteve exposto ou tem algum tipo de sintoma; tal tecnologia ainda não é aprovada no Brasil.
E como cidadãs e cidadãos, o que pode ser feito?
Claudio Maierovitch: Cada um pode se proteger e ajudar a proteger a comunidade vacinando-se adequadamente, usando máscara e evitando aglomerações e ambientes fechados. Afora isso, cabe a cada um de nós cobrar dos governos a adoção das medidas indicadas.