Estudo de EPPGG aborda banimento de livros infantis em escolas nos EUA
Um estudo que envolve pesquisadores de 5 universidades estrangeiras detectou que livros infantis que abordavam questões de raça e de orientação sexual foram os mais banidos de escolas dos Estados Unidos. Um dos autores da investigação é o EPPGG Marcelo Gonçalves, atualmente finalizando seu doutorado em Políticas Públicas na Universidade de Duke (EUA).
De 1.648 livros proibidos no ano letivo 2021-2022 (recorde histórico nos EUA), 37% versavam sobre temáticas raciais e de gênero. Em segundo lugar nos banimentos, 22% das obras eram livros de não-ficção sobre movimentos sociais e figuras históricas.
Tentando entender a motivação por trás destas proibições, os autores do estudo perceberam que elas ocorriam com maior frequência em locais tradicionalmente governados por republicanos – mas, especialmente, onde as eleições estão cada vez mais competitivas, a ponto de os Republicanos verem seu domínio político ameaçado pelo Partido Democrata.
Por isso, eles concluem que o banimento é mais uma estratégia política para mobilizar eleitores conservadores do que de fato para impedir o consumo de obras consideradas inapropriadas – afinal, o estudo mostra também que os livros banidos não estão entre os mais populares e a censura não teve um efeito significativo, positivo ou negativo, sobre o interesse nas obras.
“Ninguém quer que crianças sofram ou sejam expostas a conteúdos inadequados para a idade delas. Logo, os defensores dos banimentos argumentam que estão fazendo isso em defesa das crianças, dos valores da família etc. Sempre que um tema tem a ver com crianças, isso mobiliza as pessoas. É o tipo de coisa que move muita gente, mas que, muitas vezes, se trata de pessoas que sequer conhecem o conteúdo dos livros que estão sendo banidos”, afirma Gonçalves.
O EPPGG também comenta o fator político por trás desses números, comparando com o cenário brasileiro, em que recentemente os livros “O Menino Marrom”, de Ziraldo, e “O Avesso da Pele”, de Jefferson Tenório, sofreram censura em escolas: “Eu não me surpreenderia que os banimentos feitos no Brasil sejam apenas mais uma estratégia de mobilização política, assim como nos EUA. Tanto aqui como lá não se trata de resolver problemas reais da comunidade escolar, mas sim a promoção de bandeiras ideológicas que são promovidas às custas de grupos minoritários. Não se trata de proteger crianças, mas de alardear pânico moral para fins políticos”, sustenta.
O G1 publicou reportagem sobre o estudo – acesse aqui.