ANESP

View Original

Com prejuízos milionários, greve de auditores da Receita completa um mês

A greve de auditores fiscais da Receita e do Trabalho, parados desde 18 de março, completa um mês nesta sexta-feira, dia em que se reúnem em assembléia para decidir o futuro do movimento.

A categoria vai analisar proposta do governo, de reajuste de 43,9% para os servidores com salário teto e de 41,7% para os de salário inicial. A aplicação do aumento seria feita em três anos, sempre no mês de julho. O presidente do Unafisco (Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal), Pedro Delarue, já considerou a proposta insuficiente.

Os auditores querem aumento do teto salarial de R$ 13,4 mil para R$ 19 mil (equiparação com os delegados da Polícia Federal), que representa o mais alto salário do Executivo. Atualmente, são 12 mil auditores fiscais ativos, dos quais 30% continuam trabalhando, segundo determina a lei.

Na última semana, a tensão da greve aumentou por conta da possibilidade de corte de ponto, ou seja, desconto dos dias parados. Ontem, os auditores conseguiram no STJ (Superior Tribunal de Justiça) um liminar que os protege do corte, permitido pelo STF (Supremo Tribunal Federal) há uma semana.

À noite, porém, o governo conseguiu restabelecer pela segunda vez o direito de descontar os dias. A AGU (Advocacia Geral da União) recorreu da decisão do STJ. Com o argumento de que o futuro presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, já havia decidido que a greve era "ilegal", a AGU conseguiu reverter decisão liminar.

O governo já anunciou na semana passada, quando a primeira liminar foi derrubada, que vai descontar os dias de greve em abril.

Os auditores fiscais da Receita fazem hoje nova assembléia para decidir se continuam parados ou não.

Prejuízos - Com a greve, uma série de setores da indústria já anunciou prejuízos milionários, seja pela falta de insumo para produzir, seja por mercadoria paradas em portos, sem liberação.

O presidente da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), Humberto Barbato, entregou ao ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, carta em que notifica prejuízos entre US$ 120 milhões e US$ 150 milhões, considerando a redução da produção, a perda de faturamento e as multas por atrasos no cumprimento de contratos.

Barbato afirmou a Miguel Jorge que o valor das importações dos insumos retidos nas alfândegas corresponde a cerca de US$ 400 milhões nestes 30 dias de paralisação.

O presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Jackson Schneider, disse, por sua vez, que a greve já coloca em risco linhas de produção no Brasil e no exterior, que dependem de peças brasileiras.

De acordo com o vice-presidente do Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores), Antônio Meduna, a situação da indústria de componentes está "no limite".

No porto de Santos, atualmente há mais de 150 mil contêineres parados. Segundo cálculos da regional de Santos do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), o acúmulo representa um volume estimado de mais de US$ 9 bilhões em mercadorias. O porto de Santos movimenta, por mês, cerca de 140 mil contêineres com 2 milhões de toneladas de produtos.

A greve também causa filas em Uruguaiana e São Borja, ambas na fronteira entre a Argentina e o Rio Grande do Sul, onde se aglomera cerca de 1.600 caminhões. Em Santa Catarina, liminar da Justiça Federal obriga os auditores no porto catarinense de São Francisco do Sul a garantir o desembaraço de cargas em cinco dias.

Em Manaus, já chega a R$ 1 bilhão o prejuízo acumulado pelas empresas do Pólo Industrial. A greve nacional também é responsável pela paralisação parcial de 18 fábricas do pólo e pela licença remunerada ou falta de trabalho no pátio das fábricas de sete mil trabalhadores.

A greve continua a prejudicar principalmente as importações, mas seu prolongamento poderá começar a afetar as exportações já na próxima semana, porque o acúmulo de carga parada provoca também uma falta de contêineres no mercado, afirma o diretor-executivo da Abtra.

Folha Online