Entrevista concedida pelo Secretário de Gestão

Confira a entrevista do Secretário de Gestão, Marcelo Viana, ao Blog do Servidor, do Correio Braziliense, sobre a qualidade na Administração Pública, os avanços na questão da valorização financeira, e que "o ano de 2009 é o ano da gestão". 

A burocracia de Estado está em mutação. Com mais concursos na praça, gente qualificada passou a engrossar as fileiras da administração. Sinal dos tempos. Os salários melhoraram, mas os desafios também ficaram mais difíceis. Principalmente no Executivo.

O secretário de Gestão do Ministério do Planejamento, Marcelo Viana, explica que o "xis" da questão é conjugar ferramentas inovadoras com práticas tradicionais. O resultado, espera-se, serão serviços melhores, cidadãos mais bem atendidos, contribuintes satisfeitos.


Em tempos de crise econômica, pensar em gestão de Estado fica um pouco mais complicado.


Nesta entrevista ao blog, Viana desenrola alguns novelos.


Por que, no funcionalismo, a satisfação pessoal está tão atrelada ao salário?

Não acho que seja o salário que faz a pessoa feliz. Mas é que no mercado as pessoas procuram vender na sociedade capitalista sua força de trabalho pelo melhor preço possível. Então, evidentemente, a remuneração é um ponto importante para a satisfação das pessoas. É a condição necessária, mas não é suficiente nem para as pessoas ficarem felizes e nem para garantir por si que a qualidade do serviço público vai melhorar.

Em geral, paga-se menos para quem realmente tem de prestar um serviço direto à população e paga-se mais a quem tem de carregar papel de um lugar para o outro. Talvez aí esteja a origem daquele problema de que as pessoas percebem o Estado como caro e reclamem dos serviços que recebem. Talvez porque o Estado caro é caro porque vai para outras coisas que não a remuneração do servidor que tem de prestar um serviço efetivo ao cidadão. Talvez.


O governo busca imprimir uma maior profissionalização no setor público. O Brasil caminha para isso mesmo?

Avançamos na questão da valorização financeira. Havia uma demanda reprimida de anos. No que diz respeito a uma estrutura de incentivo estamos iniciando um processo importante. Vamos colocar em consulta pública tanto uma proposta de decreto voltada para simplificação do atendimento ao cidadão, para parar de pedir ao cidadão informações que o Estado já detém. E mais um projeto de lei que prevê a contratualização de desempenho institucional na administração pública, com a concessão de autonomias gerenciais, e também com a reversão dos ganhos de eficiência para reverter para os órgãos e entidades que economizem. Isso inclusive pode vir até ser transformado em bonificação ao servidor. Seria quase que um PRL (Participação nos Lucros e Resultados) da administração pública federal.


Em que medida a estabilidade no emprego atrapalha ou facilita o processo de implementação dessas políticas?

Temos de trabalhar no sentido de verificar se esses novos incentivos poderão contrariar alguma tendência à acomodação derivada da estabilidade. Acabar com a estabilidade pura e simplesmente sem ter políticas de incentivo ou desempenho não vai levar a muita coisa. Colocar a estabilidade como questão central é equivocado. O desafio é conjugar essa situação atual com os incentivos corretos. Agora, pode ser que, no futuro, se chegue à seguinte conclusão: 'talvez não deva haver estabilidade para todo mundo'.


Gestão virou palavra de ordem de quase todos os políticos neste início de ano. É só discurso?

O ano de 2009 é o ano da gestão. O assunto tem grande repercussão, está na pauta dos prefeitos eleitos. Temos um caldo político cuja palavra síntese é gestão. Alguns dos principais candidatos a presidente estão se credenciando com base nas suas qualidades de gerente. Deve haver algum motivo nisso, há alguma demanda da sociedade por isso. Estamos nos apropriando das melhores práticas em termos de gestão. O Estado tem de fazer da gestão o seu negócio, assim como o setor privado procura fazê-lo.


Para ser servidor é preciso ter vocação?

Sim. Fico preocupado, pelo fato da remuneração ter ficado boa, tem muita gente sem vocação pensando em fazer concurso só por causa do salário. Mas é preciso acreditar no que vai fazer, tem de ter compromisso. Se amanhã o vento soprar em outra direção, aqueles que vieram só pelo salário vão fugir, mas vai ter gente que vai ficar e fazer o trabalho.


Esse entra e sai que acontece dentro da administração, inclusive entre os Poderes, não atrapalha?

Há uma política remuneratória hoje capaz de atrair e reter bons talentos. Se todos terão vocação ou não para a administração? Isso é uma questão problemática. E aí essa vocação pode ser mais ou menos estimulada conforme o uso dos outros incentivos para além da questão remuneratória. A remuneração é importante, mas não é um fato exclusivo, absoluto nem único.


Fonte: Blog do Servidor - www.correioweb.com.br