EPPGG debate com deputada federal papel da mulher no serviço público
Natália Fontoura, da 6ª turma, relata experiências e impressões sobre avanços e desafios na luta pela igualdade de gênero no serviço público
A Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental (EPPGG) da 6ª turma Natália Fontoura, atual coordenadora de Igualdade de Gênero e Raça do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), foi a convidada especial da Associação dos Funcionários do Ipea (Afipea) para debater os avanços e desafios das políticas públicas de promoção de igualdade de gênero no país.
O evento “Mulheres no Serviço Público: Desafios para a igualdade” faz parte da programação do mês da mulher e contou também com a participação da deputada federal Erika Kokay. O presidente da associação anfitriã, Fábio de Sá Silva foi o intermediador.
A primeira a fazer o uso da palavra foi a EPPGG Natália Furtado. Ela apresentou dados estatísticos sobre a presença da mulher no serviço público e detalhou conceitos e conclusões de pesquisas que amparam o trabalho desenvolvido na promoção da Igualdade de Gênero dentro e fora do funcionalismo.
Em seguida, a deputada federal fez um resgaste histórico do problema que chamou de subalternização da mulher em relação ao homem em todas as esferas sociais. Erika Kokay ressaltou o sofrimento e a culpa que marcam a maioria das mulheres no país pela exclusividade sobre a responsabilidade do trabalho doméstico e do cuidado dos filhos em um tempo em que as mulheres precisam e querem estudar e trabalhar.
Antes do fim do evento, foi aberto espaço para perguntas e contribuições da plateia.
Leia abaixo as principais reflexões dos componentes da mesa.
Natália Fontoura
Refletir sobre as mulheres no serviço público parece um problema já resolvido, já que temos até uma Presidente da República. Além disso, por sermos privilegiadas em fazer parte de uma minoria escolarizada, em termos de renda e com uma série de direitos assegurados por sermos servidoras públicas. Mas apesar do grande acesso das mulheres aos cargos públicos nos últimos anos, ainda não somos maioria, somos 45%, quando somos maioria na sociedade.
E há uma segmentação importante: somos a maioria na área social, mas minoria nas políticas de infraestrutura e de outras áreas que carregam a pecha de serem masculinas.
Não acreditamos que existam atributos naturalmente femininos, mas acreditamos que é preciso garantir a presença proporcional em toda a sociedade.
O serviço público não é uma ilha. Ele reflete as mazelas e distorções presentes na sociedade como um todo. Mas, por outro lado, como temos a obrigação de sermos promovedores de justiça e igualdade, temos também que ser vanguarda. É preciso que as mudanças comecem de dentro do governo para fora.
Um exemplo de desigualdade e de herança machista é que temos 100% das copeiras mulheres no Ipea, assim como 100% das secretárias são mulheres.
Se queremos ser vanguarda, e queremos, podemos começar em um ponto que é fundamental, que se relaciona aos cuidados, tema que ainda não chegou com força ao Brasil. O ser humano carece de cuidados em pelo menos alguma fase da vida, outros já precisam de cuidados constantes. E esse papel tem sido deixado exclusivamente para as mulheres. Elas que cuidam das crianças, dos recém-nascidos, dos portadores de necessidades especiais, dos idosos, dos acidentados, enfermos. Nisso a ANESP me ajudou muito a refletir quando trouxe a discussão sobre os direitos e necessidades da maternidade. No início, a mulher acaba sendo a maior beneficiada quando se adapta o serviço público a essas necessidades, mas a proteção da reprodução da sociedade tem que ser uma demanda de todos os integrantes da sociedade, e em todos os níveis. Aí já não temos mais que falar somente de licença maternidade. Também não temos que falar de licença paternidade. Temos que garantir os direitos da criança e passar a falar em licença parental. E dividir, como em países escandinavos, a responsabilidade sem que haja uma distinção de gênero.
O serviço público pode servir de exemplo para toda a sociedade começando a promover essas mudanças de cultura no ambiente de trabalho.
Fábio de Sá Silva
O objetivo do evento foi o de exaltar o dia da mulher como um dia de luta, e não como um dia de dar flores e abraços. Existe uma luta que vem sendo travada há muito tempo e que teve como símbolo o ato das nova-iorquinas, que ao reivindicar seus direitos foram incendiadas dentro da empresa em que trabalhavam.
O evento tem um caráter sindical por ser organizado por um. Portanto, temos a possibilidade de sermos assertivos e propositivos durante nossas manifestações para que sejam geradas, quem sabe, proposições normativas que abasteçam o legislativo.
Érika Kokay
Temos as mulheres adentrando o serviço público, mas as mulheres ainda detêm a exclusividade dos trabalhos domésticos. É como se disséssemos: “Vá. Ocupe seu espaço na sociedade. Mas não deixe sua casa desarrumada nem seu filho adoecer. A responsabilidade é sua”.
As mulheres sentem culpa por conta da herança de uma sociedade machista e sexista.
Nós queremos equidade de gênero e igualdade de direitos. Não queremos ser homens. Queremos o direito de ser mulher em qualquer posição que ocupemos e em qualquer lugar.
O ser humano é ambivalente. Tem força, coragem e tem fraquezas. Isso não é diferente com homem ou com mulher.
As diferenças estão nos indivíduos. Não estão definidas pelo sexo, mas pela individualidade. Dizer que um papel é masculino e outro é feminino é desrespeitar e subjugar um ou outro.
Queremos a caneta, o microfone e o batom. Não queremos ser homens.