A (pequena) presença de mulheres negras como gestoras públicas

EPPGG Maria Aparecida Chagas Ferreira

Mulheres negras podem ser gestoras públicas? É com tal questionamento que a EPPGG Maria Aparecida Chagas Ferreira intitula seu artigo publicado no República.org no final de julho. A resposta – óbvia – não tarda, e vêm acompanhada de outra pergunta mais provocativa e preocupante: “Sim, nós podemos ser gestoras públicas. Porém, há outras perguntas que devem ser feitas. Nós, mulheres negras, somos gestoras públicas?”. A resposta, dessa vez, é negativa: dados de 2020 apontam que mulheres negras representam apenas 5% dos cargos mais elevados da esfera pública, afirma Ferreira.

Ao longo do texto, a autora – mulher negra, doutora em Sociologia e mestre em Educação, ex-secretária de Planejamento e Formulação de Políticas na Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e ex-membra da Comissão de Acompanhamento de Políticas de Ações Afirmativas na pós-graduação da UnB, onde trabalhou na proposta aprovada de implementação das ações afirmativas para estudantes negras/os, indígenas e quilombolas – demonstra que as mulheres negras estão colocadas em posições frágeis no mercado de trabalho, o que não é exclusivo do serviço público. Por exemplo, representam 55% das trabalhadoras domésticas no país, das quais 61% trabalham sem carteira assinada.

“No mercado de trabalho estamos concentradas em posições frágeis, temos a maior taxa de desocupação, de subutilização e rendimento médio inferior. Somos maioria em postos de trabalho relacionados ao ‘cuidado’, que incluem funções domésticas, de saúde e de educação. O problema não é a natureza do trabalho, mas o estereótipo, a baixa remuneração e a valorização dessas posições”, critica. 

A despeito das pessoas negras comporem a maioria da força de trabalho brasileira (54,9%, de acordo com o IBGE), essa proporção não se reflete em cargos gerenciais, os quais 69% são ocupados por pessoas brancas. Além da raça, Ferreira sublinha também a interseccionalidade com questões de gênero: “A interseção entre racismo e machismo é o que caracteriza as relações sociorraciais no mercado de trabalho brasileiro. Homens brancos se situam no topo, seguidos das mulheres brancas, dos homens negros e das mulheres negras. Essa hierarquia se reproduz também no serviço público”.

Um caminho possível, defende a EPPGG, é a construção de políticas de recursos humanos que busquem inclusão e diversidade no serviço público: “Já temos experiências na administração pública de seleções intencionadas a achar a pessoa certa para o cargo gerencial certo, assim sendo, por que não incluir ações afirmativas nesse processo?”, conclui.

Leia a íntegra do artigo.