200 mil mortos: tristeza, inação e urgências

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A marca de 200 mil mortos pela covid-19 no Brasil, ou 27 mortes por hora desde a primeira registrada, em março de 2020, escancara a atual incompetência no enfrentamento da pandemia. As vidas perdidas e a curva que se acentua, tendendo à repetição dos piores momentos observados no ano passado, com alto número de casos e lotação de hospitais, passam por inércia na gestão e na política.

Ainda que atrasada por falhas na gestão, a perspectiva da vacina traz um alento nesse começo de ano. Mas não é possível deixar de registrar com dor e indignação as duas centenas de milhares de mortos em um país de praticamente 200 milhões de habitantes.

A pandemia se apresentou como um desafio de políticas públicas em vários setores: obviamente na saúde, mas também na educação, na assistência social, na economia, na mobilidade urbana, na cultura, na ciência e na tecnologia, como já discutimos no livro “Políticas Públicas: Análises e Respostas para Pandemia”.

Negando a gravidade do problema, o governo federal agravou desigualdades e desprezou as mortes, deixando os brasileiros desorientados em um cenário nebuloso e sem perspectivas. Por momentos, a vacina foi removida do contexto de estratégia nacional de saúde pública, mesmo que cerca de 50 países já estejam à frente do Brasil, que tinha tudo para largar na dianteira diante do histórico de programas de imunização bem sucedidos e de referência internacional. Escolhido após duas demissões em meio à pandemia, o Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, revelou com suas próprias palavras desconhecer o SUS. A inação federal ainda se complementou com o veto de Jair Bolsonaro à blindagem que o Congresso aprovara para os gastos no orçamento de 2021 com ações vinculadas à produção e disponibilização de vacinas contra o coronavírus e a imunização da população brasileira.

A descredibilização da ciência impede que orientações claras sejam comunicadas à população brasileira, pois a informação é ferramenta imprescindível para o controle de qualquer epidemia. Não cabem aqui os erros e atitudes inconsequentes das autoridades, que contribuem para o elevado número de mortes. 

Quando nos aproximávamos dos 100 mil brasileiros mortos pelo novo coronavírus, a ANESP se manifestou registrando que “a insistência em políticas de austeridade e a falta de liderança do governo federal, questionando o distanciamento social, antagonizando governadores, e fazendo constantes trocas de equipes nos ministérios acabam por ter um impacto letal no contexto atual, permitindo que ocorram mais mortes e que a população sofra mais”. Infelizmente, passaram-se oito meses e pouco mudou desde então.

Cabem agora solidariedade com as vidas perdidas neste triste período e esforços para lidar com os caminhos vislumbrados neste mês de janeiro. Sabemos da importância que o desenho e a implementação de políticas públicas terá nos próximos dias. Encarar a dura realidade dos números crescentes, respondendo à altura para que se freie o espalhamento do vírus e de novas variantes, e trabalhar para a rápida aplicação da vacina são urgentes no momento, tarefas imprescindíveis de governantes e de gestores.