Inaceitável assassinato de Bruno e Dom revela assédio institucional e ataque à imprensa
A Associação Nacional dos Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental (ANESP) recebe com imensa tristeza a informação das mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips nesta quarta, 15 de junho, encerrando de forma trágica as investigações sobre o desaparecimento de ambos na região do Vale do Javari, no Amazonas.
Nos juntamos nesse momento de dor aos familiares, amigos e colegas de trabalho de Bruno Pereira e de Dom Phillips, que passaram pelo martírio dos últimos dias sem ter respostas e medidas à altura que o caso merecia por parte das autoridades responsáveis. Nesse sentido, cobramos justiça.
Esse duplo assassinato acontece em uma conjuntura de escalada de violência e perseguição a servidores públicos e profissionais de imprensa sem precedentes no País. Segundo o Assediômetro, plataforma da ARCA para denúncias de assédio institucional, de 2020 para cá foram registradas 1.248 denúncias na Administração Federal. O IBAMA é o primeiro colocado entre os órgãos que mais assediam e a Funai está em 12º lugar.
Segundo a Associação Nacional dos Jornalistas (ANJ), os ataques contra jornalistas e meios de comunicação cresceram 26,9% em 2022. Entre janeiro e abril deste ano foram identificados 151 episódios de agressão física e verbal ou outras formas de cercear o trabalho jornalístico, como restrições de acesso à informação, ataques de negação de serviço na internet, doxing (exposição de dados pessoais), processos civis ou penais, assassinato, assédio sexual e uso abusivo do poder estatal.
O que aconteceu com Bruno e Dom se insere em um quadro ainda mais complexo. Tem como pano de fundo a escalada de crimes sem punição na região amazônica, a desestruturação de políticas públicas voltadas para os povos indígenas e a conservação da região, e ainda os sucessivos ataques ao funcionalismo público, como vimos ao longo de 2021, por meio da Reforma Administrativa apresentada pelo governo e que tinha com uma das propostas centrais a quebra da estabilidade dos servidores.
A ANESP não compactua com nenhuma dessas premissas, pelo contrário, tem atuado vigilantemente na defesa de um Estado que proteja seus cidadãos, com políticas públicas e servidores públicos fortalecidos, e com irrestrita defesa da democracia, entendendo a liberdade de imprensa como um dos pilares de uma democracia saudável.
O momento é de luto. Mas queremos transformar a nossa dor e indignação na proteção e defesa daqueles servidores públicos e profissionais da imprensa que estão na linha de frente, atuando com suas melhores capacidades e engajamento na proteção e na defesa de nossos territórios e dos povos e comunidades.