Lula dá ultimato à base para votar com governo no Congresso
BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva colocou os líderes da base em xeque na reunião desta terça-feira, 11, do conselho político, afirmando estar "cansado dessa situação de ter maioria e não exercer essa maioria no voto". "Ou fica no governo ou sai do governo", disse Lula aos líderes aliados, segundo relato do líder do PSB na Câmara, Márcio França (SP), um dos presentes no encontro.
O presidente estava particularmente irritado, de acordo com líderes, com a demora na votação do Orçamento da União de 2008 e da Medida Provisória que criou a TV Pública. Essa MP está à espera de votação no Senado e perderá a validade se não for aprovada até o dia 21 deste mês. "O presidente estava uma pistola. Estava bravo. E com razão", observou França. "Ele colocou claramente a situação. Teremos de definir nessas votações quem quer e quem não quer ser governo. Se querem espaço terão de votar", acrescentou.
Na avaliação dos aliados, Lula percebe que há corpo mole na base para votar e que apenas a oposição, que é minoria, não conseguiria barrar as votações. "Nós temos número, mas não temos número (na hora de votar)", disse Lula, ainda segundo França. Ele citou que alguns senadores trocaram de partido para ingressar no governo, mas que na hora de votar, não votam.
A líder do governo no Congresso, Roseana Sarney (PMDB-MA), citou o caso do PDT. O partido tem cinco senadores, mas não ajuda na votação. "Vou chamar o (Carlos) Lupi aqui e perguntar se fica ou se não fica no governo", disse Lula, ainda segundo relato de França. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, assumiu o ministério na quota do partido que integra a base.
O ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, disse que o presidente Lula acha estranho o fato de ter maioria no Congresso, mas a minoria acabar conduzindo a pauta de votações. "Nessas horas de dificuldade, é preciso ver quem estará com o governo, deixando de lado problemas pontuais", afirmou Múcio, contando sobre a reunião do Conselho Político.
As reclamações de Lula aos aliados não terminaram na falta de votos favoráveis. O presidente cobrou também defesa do governo no plenário. Lula afirmou que assiste a transmissão da sessão pela TV Senado e só ouve senadores falando mal do governo e nenhum aliado fazendo sua defesa. Na reunião do Conselho Político, Lula mostrou ainda preocupação com as discussões no Congresso do projeto que pretende limitar a edição de medidas provisórias.
O presidente cobrou mudança no regimento para obrigar as votações nas comissões. Atualmente, não há prazo para as comissões votarem os projetos, nem prazo para os relatores apresentarem seus pareceres. Lula afirmou ainda que envia projetos de lei, que nunca são votados e, com isso, acaba editando medidas provisórias. Foi assim, por exemplo, com o projeto do Pró-Jovem e do salário mínimo. Lula disse também que pretende conversar com os presidentes da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), sobre a questão das MPs.
Na segunda-feira, 10, Lula já havia criticado o Congresso em seu programa semanal de rádio Café com o Presidente: "Eu não posso crer que apenas eu queira trabalhar, e eles não. Que apenas eu queira fazer as obras, e eles não. É de interesse de todo mundo. Os deputados e os senadores têm de votar o Orçamento. É uma questão de responsabilidade com o País. Eu tenho certeza de que há disposição e vontade política do Congresso em votar", disse no programa.
Lula reafirmou que será necessária a edição de medidas provisórias para garantir recursos para obras do PAC, se o orçamento não for votado o mais rápido possível. "Se o Brasil ficar sem orçamento se torna necessária a emissão de MPs. Não há razão objetiva para em março o país estar sem orçamento", disse o presidente, segundo relato do líder do PT na Câmara, Maurício Rands.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também avisou aos líderes partidários que não participará das campanhas municipais onde houver mais de um candidato da base governista. "Onde tiver três, quatro candidatos, não contem comigo", teria afirmado o presidente, segundo relato de um dos participantes da reunião do Conselho Político. Lula disse que estará presente nos municípios onde houver candidatos que unifiquem a base.
Estado de S.Paulo