Em ano eleitoral, CPIs se arrastam no Congresso sem resultados

Criadas com o objetivo de investigar escândalos do governo federal, as CPIs das ONGs e dos Cartões Corporativos se arrastam sem resultados e a oposição já ameça abandoná-las.

Em ano eleitoral, os governistas optaram por blindar autoridades ligadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas apurações, enquanto a oposição tenta evitar que denúncias contra a gestão tucana de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) sejam ventiladas.

Mesmo sem admitir oficialmente a paralisia nos trabalhos, a oposição ajudou a aprovar na CPI mista (com deputados e senadores) dos Cartões Corporativos cronograma de trabalhos do relator Luiz Sérgio (PT-RJ) que posterga as investigações da comissão.

Na primeira etapa, que começa nesta semana, a comissão pretende apenas reunir informações sobre o uso dos cartões corporativos no governo. Os ministros Jorge Hage (Controladoria Geral da União), Paulo Bernardo (Planejamento) e o ex-ministro do Orçamento Paulo Paiva, da gestão FHC, serão ouvidos esta semana.

"O cronograma foi preparado com essa estratégia de protelar as investigações. Esses primeiros depoimentos de ministros da CGU [Controladoria Geral da União] e do TCU [Tribunal de Contas da União] não vão levar a nada", disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), avaliou que ainda é cedo para afirmar se há uma falta de empenho nas investigações na CPI dos Cartões. "Dá para desconfiar, mas não podemos afirmar seguramente. A comissão acaba de iniciar seus trabalhos", disse. "Mas, de nossa parte, queremos descobrir quem são todos os cretinos que fizeram gastos irregulares, seja de FHC ou de Lula."

Na CPI das ONGs, o esvaziamento é ainda maior. Instalada desde outubro, a comissão não aprovou nenhum requerimento de quebra de sigilo bancário ou telefônico.

Espécie de líder governista na comissão, o senador Sibá Machado (PT-AC) disse ontem que "não vê motivos" para quebrar sigilos de nenhuma entidade. "Não dá para quebrar sigilo só por querer. Tem de fundamentar", disse.

Integrante da CPI dos Cartões, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) acha que a oposição está desarticulada. "Nós sempre formos minoria, mas desta vez tem faltado combatividade. Há um certo receio, sobretudo do PSDB, de investigar a fundo a gestão FHC para que não sejam feitas comparações com o governo atual."

Senadores da oposição já ameaçam abandonar as CPIs caso não consigam aprovar requerimentos de quebras de sigilo nas duas CPIs. "Não há porque se continuar legitimando uma farsa", afirmou Dias.

Demóstenes defende que a possível saída da CPI seja uma decisão partidária.

Gabriela Guerreiro e Adriano Ceolin / Folha Online e Folha de S.Paulo