Profissionalização da formação tem um leque de obstáculos

Sobretudo em 2009, o tema gestão pública está “na moda”. É visível que o governo tem adotado medidas para tornar os três poderes mais transparentes e menos burocráticos. Entretanto, algumas áreas que interferem diretamente na administração governamental, como a formação de servidores, ainda enfrentam problemas. Essa visão foi exposta pelo secretário-executivo adjunto do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, o EPPGG Francisco Gaetani, durante o “Fórum Brasil-França – Profissionalização e Consolidação do Serviço Público no Contexto de Reforma das Políticas Públicas” - realizado, nesta semana, na Escola Nacional de Administração Pública (Enap).

Com a experiência de ex-diretor de Formação da Enap e ex-diretor da Escola de Governo de Minas Gerais/Fundação João Pinheiro, Gaetani considera que o debate a respeito da profissionalização da formação necessita de um maior aprofundamento em diversos aspectos.

Tudo começa nos concursos públicos. Com provas “industrializadas” e que exigem dos candidatos a famosa “decoreba”, em geral, eles falham em estimular o aprendizado e selecionar os mais capazes em formular opiniões. “Desculpe a franqueza, mas nossos concursos são péssimos”, disparou o gestor.

Alguns processos seletivos, porém, já apresentam mudanças. É o caso da recente seleção feita para a carreira de EPPGG. Além de separar as provas objetivas e discursivas em etapas distintas, as questões abertas passaram a exigir um conhecimento e capacidade de reflexão muito maior dos candidatos.

Outro aspecto negativo da profissionalização da formação diz respeito ao processo de alocação. O secretário-executivo adjunto considera que a atual estrutura - baseada no desempenho durante a seleção - é amadora. Para ele, o sistema deveria avaliar aspectos que envolvessem características comportamentais do futuro servidor, como afinidades com algumas áreas e aptidões identificadas durante o curso - “Não damos ênfase a aspectos da pessoalidade e outros, intangíveis.” comentou.
Ainda na área da gestão de pessoas, uma das que englobam a profissionalização da formação, os desafios também são latentes. Para o EPPGG, um deles refere-se à motivação da procura pelo serviço público. Poucos fazem os concursos pensando em se tornarem bons servidores e o pensamento fica restrito à boa remuneração e estabilidade.

As dificuldades atingem, ainda, o relacionamento entre chefes e subordinados. Sobre isso, Gaetani explica que os dois lados têm seus erros. No alto escalão, muitos servidores não conseguem potencializar o trabalho de seus comandados. Já alguns liderados não executam suas atividades com a presteza necessária. “Ainda não temos ideia de como lidar com a questão do empreendedorismo e liderança. A Enap está evoluindo nesse aspecto, mas ainda falta bastante”, afirmou.

Erasmus da formação pública
Também no Fórum realizado na Enap, a diretora de Formação da École Nationale d'Administration (ENA), da França, Françoise Camet, explicou alguns dos novos paradigmas que a instituição levou para as questões referentes à preparação de gestores.

Segundo Camet, a entidade passou a estimular os futuros servidores franceses a ingressarem na administração pública com uma visão mais moderna. Lá, a formação incentiva a abertura, transparência, comunicação e capacidade de desenvolver uma democracia participativa, em que o governo dialoga, interage e coordena a formulação de políticas públicas com outros atores, como fundações, sindicatos, associações e sociedade civil.

Para estimular essa realidade, nos últimos anos, a ENA apostou em um processo de reforma. Uma das movimentações, diz respeito à supressão das avaliações de classificação no fim do curso. Para a diretora de Formação da Escola, isso proporcionou maior espaço de interação e negociação entre empregadores e servidores – o que estimula o relacionamento interpessoal e a inclusão do lado comportamental na alocação de servidores. “Nossa instituição tornou-se uma Escola de gerenciamento que brilha em todo o continente europeu”, comentou.

As novidades apresentadas por Camet estimularam Gaetani. O EPPGG considera que seria interessante se o Brasil pudesse desenvolver um método para poder importar, não só para o País, alguns dos avanços desenvolvidos na França. “Poderíamos ter um Programa Erasmus no campo da formação pública. A França promove esse tipo de intercâmbio com países europeus e isso os está ajudando muito. Tenho certeza de que o Brasil e a América Latina também poderiam se beneficiar”, sugeriu.

Fonte
Assessoria de Comunicação ANESP