“Por uma burocracia que não está no retrato”, por Clara Marinho

Rita Serrano (esq.), nova presidente da Caixa Econômica Federal, e Tarciana Medeiros, primeira mulher a presidir o Banco do Brasil

A edição da Folha de S.Paulo, do último sábado (11/03), trouxe o artigo “Por uma burocracia que não está no retrato”, de Clara Marinho, que é analista de Planejamento e Orçamento e coidealizadora da iniciativa “Elas no Orçamento”.

Para a autora, o núcleo duro do serviço público ainda não retrata a sociedade brasileira. E se isso não for uma preocupação central na formação das equipes, a fotografia dos dirigentes será sempre parecida, apesar da passagem do tempo. Não é recrutando profissionais dos mesmos círculos sociais ou usando argumentos de neutralidade nos processos seletivos e de indicação que será possível produzir novas soluções para os grandes problemas nacionais — como a pobreza, a desigualdade, a degradação ambiental, a baixa produtividade econômica etc. Ou ainda é possível acreditar que uma burocracia homogênea não possui vieses decisórios? Ou que é possível governar para mulheres sem sua participação? Diga-se o mesmo para a população negra, os povos indígenas, a população LGBTQIA+, entre outros sujeitos de direitos.

Clara Marinho explica que a diversidade de gênero e raça deve ser um valor intencional na gestão do Estado, na medida em que pode tornar as políticas públicas mais próximas das necessidades e dos valores da população. Assim, nasceu a iniciativa "Elas no Orçamento". Nos últimos meses de 2022, a ação coletou indicações de mulheres que se destacam na área de finanças públicas, formando uma lista ofertada à sociedade com 260 profissionais de elevada formação acadêmica, carreiras consistentes e entregas feitas ao país.

Como há disposição de ministras e ministros para a composição de equipes diversas, avalia-se que há espaço para progredir. Mas é possível deixar que a democratização da alta burocracia dependa sobretudo das autoridades políticas?

Um país tão diverso e multirracial como o Brasil não pode esconder as demandas legítimas por inclusão e participação cívica para debaixo do tapete e deixar que as principais decisões sobre o seu futuro continuem a ser tomadas, majoritariamente, por pessoas de terno e gravata, conclui Clara Marinho.