No UOL, EPPGG avalia por que gastos bilionários do governo não garantiram reeleição de Bolsonaro

Reportagem do UOL entrevistou especialistas com o objetivo de tentar entender por que os gastos bilionários do governo Bolsonaro não foram suficientes para garantir a sua reeleição. Entre as pessoas ouvidas pelo portal, estava a EPPGG Letícia Bartholo, que comentou sobre três fatores principais: o desenho equivocado do Auxílio Brasil; a questão do crédito consignado vinculado ao benefício, que Ministério Público (MP) e Tribunal de Contas da União (TCU) pediram a suspensão devido ao possível uso eleitoral; e, por fim, a memória da população mais pobre do País.

Desenho equivocado do Auxílio Brasil

Para Bartholo, é evidente que o aumento do valor do benefício é positivo; contudo, o programa, nos moldes atuais, tem graves problemas de desenho, exemplificado na explosão de cadastros de famílias formadas por uma única pessoa.

“Quando o Auxílio Brasil paga um piso por família, desconsidera o número de pessoas na família. Na realidade, está pagando R$ 600 para quem mora sozinho, R$ 300 para uma família de dois, R$ 200 para uma família de três e R$ 150 para uma família de quatro integrantes, pensando no valor por pessoa”, comenta a EPPGG.

Crédito consignado

Enquanto o Auxílio Brasil de R$ 600 começou a ser pago em agosto, o consignado – com valor médio de R$ 2.600 – passou a ser pago a partir de 10 de outubro (ou seja, entre o primeiro e o segundo turno das eleições). Em apenas 11 dias, a Caixa Econômica Federal já havia emprestado R$ 4,3 bilhões para 1,7 milhão de pessoas.

O Ministério Público, em ação conjunta com o Tribunal de Contas da União, chegou a pedir a suspensão do consignado para “impedir sua utilização com finalidade meramente eleitoral”. A modalidade de empréstimo sofreu duras críticas de especialistas por comprometer até 40% do benefício pago às famílias mais vulneráveis do país com o pagamento de dívida.

“É claro que a população precisa de acesso a crédito, mas há uma incompatibilidade entre o empréstimo consignado, que exige uma regularidade de pagamentos, e o desenho do Auxílio Brasil, que prevê a possibilidade de bloqueios, suspensões e até mesmo a saída da família do programa, por problemas de cadastro ou quando a família deixa de cumprir condicionantes”, observa Bartholo. 

Memória social

“A população mais pobre tem memória”, afirma a especialista, que é ex-secretária nacional adjunta de Renda de Cidadania. “Tem memória de como o presidente Bolsonaro tratou a transferência de renda aos mais pobres durante toda a sua carreira no Legislativo e Executivo, chamando de 'bolsa esmola'. Além disso, no último período, houve muitas mudanças, muito 'vai, não vai' no âmbito da transferência de renda. Foram seis mudanças em dois anos, o que gera uma sensação de insegurança na população, de não saber o dia de amanhã. Acredito que isso contribuiu para essa estratégia que injetou bilhões de reais [na economia] não ter dado certo”, conclui.

Os outros especialistas ouvidos pelo UOL foram Bruno Carazza (Fundação Dom Cabral), Denilde Holzhacker (ESPM) e Sérgio Lazzarini (Insper). Leia a íntegra da matéria.


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