Na Nature, EPPGG propõe caminhos para a equidade de gênero na Ciência e na Saúde

A EPPGG e vice-presidenta da Fiocruz Cristiani Vieira Machado publicou artigo na revista Nature, em coautoria com Cristina Araripe Ferreira e Maria Auxiliadora de Souza Mendes Gomes, em que debate a equidade de gênero nas áreas científicas e da Saúde. Postas diante de um cenário de desigualdade entre homens e mulheres – em definição de pautas prioritárias, investimentos, representatividade –, as autoras fazem uma série de propostas a fim de promover a equidade, como, por exemplo, a definição de medidas concretas para coibir assédios e a garantia de direitos reprodutivos. Ao todo, são 13 propostas, que estão listadas ao final deste texto.

Segundo as autoras, a promoção de equidade de gênero é essencial para a melhoria da saúde das mulheres em um sentido amplo: “A sub-representação das mulheres em cargos de tomada de decisão em diferentes esferas, como a política, a ciência e o setor da saúde, restringe o seu poder e influência para mudar o status quo”, apontam.

Para exemplificar, elas destacam que, na área da Saúde, embora as mulheres representem 70% da força de trabalho mundial, elas ocupam apenas 25% dos cargos de liderança no setor: “A força de trabalho da saúde tem uma profunda segregação ocupacional por gênero, expressa tanto horizontalmente (a sub-representação das mulheres em especialidades como a cirurgia) como verticalmente (a sub-representação das mulheres em cargos de gestão ou políticos)”. De forma a corroborar o argumento, as autoras relembram que as mulheres representam apenas 25% dos ministros da Saúde e 23% dos chefes de delegações na Assembleia Mundial da Saúde.

As consequências da desigualdade são diversas, incluindo lacunas no desenvolvimento científico (uma vez que os esforços de pesquisa historicamente privilegiaram prioridades masculinas); na disponibilidade de dados (que podem levar a subestimação do sofrimento das mulheres); e em investimentos (menores em áreas relevantes para as mulheres).

“Além disso, a saúde das mulheres pode ser afetada negativamente pelas desigualdades estruturais de gênero relacionadas com os diferentes papeis sociais, discriminação, assédio, violência, falta de oportunidades e barreiras às escolhas e perspetivas pessoais e profissionais das mulheres nas sociedades”, acrescentam as autoras. Nesse sentido, elas citam o fato de 125 milhões de meninas em países de baixo e médio rendimento estarem fora da escola, o que se soma à segregação laboral entre homens e mulheres e às disparidades salariais entre gêneros.

Frente a este cenário, as autoras apresentam algumas estratégias para reduzir a desigualdade de gênero, com foco nas áreas da Ciência e da Saúde – ao todo, são 13 propostas:

  • Adotar uma abordagem interseccional na compreensão e enfrentamento das desigualdades de gênero e das suas implicações para a saúde das mulheres;

  • Promover a liderança política das mulheres;

  • Implementar ações afirmativas em todas as esferas políticas, setores políticos e organizações;

  • Imposição de restrições legais à segregação laboral e às disparidades salariais e remoção de barreiras à progressão na carreira das mulheres;

  • Combater todas as formas de discriminação, assédio, violência e práticas nocivas contra mulheres e meninas;

  • Garantir os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres;

  • Promover direitos parentais que reduzam as assimetrias nos papeis de gênero e protejam as mulheres de perderem os seus empregos ou oportunidades de carreira;

  • Apoiar os movimentos de direitos das mulheres e o envolvimento de homens nestes movimentos;

  • Implementar estratégias para reduzir a segregação ocupacional por gênero na força de trabalho da saúde, tanto horizontal como verticalmente;

  • Melhorar a visibilidade das mulheres que trabalham na Saúde e na Ciência;

  • Aumentar os investimentos em investigação, inovação, políticas e serviços em saúde para abordar as condições que afetam as mulheres de forma exclusiva, desproporcional ou diferentemente;

  • Remover barreiras que possam ser prejudiciais ao acesso das mulheres aos cuidados de saúde ou à eficácia das intervenções de saúde para as mulheres;

  • Expandir estratégias para reduzir a mortalidade e morbidade materna, a gravidez na adolescência, o câncer do colo do útero e da mama e a violência contra as mulheres, adaptadas ao contexto e às necessidades dos diversos grupos sociais.

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