EPPGG discute passado, presente e futuro da diplomacia brasileira

Em artigo publicado no “The Palgrave Handbook of Diplomatic Reform and Innovation”, o EPPGG Rogério de Souza Farias discute as respostas da diplomacia brasileira às convulsões mundiais do pós-Guerra Fria e os desafios que o Itamaraty enfrenta na contemporaneidade. O texto é escrito conjuntamente com Antônio Carlos Lessa.

Em resumo, o capítulo apresenta um conjunto de temas cruciais sobre como a interligação entre variáveis domésticas e internacionais afetou o Itamaraty ao longo do tempo. Para os autores, apesar do severo rejuvenescimento do corpo diplomático brasileiro, o Itamaraty tem demorado a atualizar seus métodos de trabalho, estrutura de governança e missão.

Farias e Lessa argumentam que, após a Guerra Fria, a revolução da comunicação pressionou os diplomatas brasileiros a repensar seus métodos de trabalho: “A internet mudou o portfólio de atividades que realizavam, mas também criou um canal não filtrado pelo qual o Itamaraty pode ser criticado – até mesmo por seus funcionários. Apesar da mudança subjacente, a instituição manteve sua estrutura de tomada de decisão altamente centralizada”, criticam.

Outro ponto importante a se tratar, segundo os autores, é a desigualdade de gênero na carreira: “Celebrar a imagem de uma democracia multirracial e colocar-se na posição de intérpretes privilegiados do interesse nacional tornou-se difícil no contexto da predominância de homens brancos do sudeste (principalmente do Rio de Janeiro). Como esse grupo poderia questionar os legados das hierarquias coloniais do sistema internacional se internamente eles representam uma instituição com desigualdades semelhantes?”, questionam. Dessa forma, os debates atuais sobre a política externa brasileira apontam para esse descompasso, o que faz aumentar a pressão por uma presença mais significativa das mulheres na carreira diplomática.

Por fim, o texto debate o papel do corpo diplomático brasileiro de forma mais ampla: de uma tentativa de emular modelos europeus, até a Guerra Fria, a diplomacia brasileira passou a abraçar uma visão de mundo original que associava o subdesenvolvimento a um “sistema internacional viciado”, nas palavras dos autores. Assim, entre 2003 e 2016 - ou seja, durante os governos de Lula e Dilma -, os diplomatas defenderam que o Brasil tinha um modelo próprio que poderia, a sua vez, ajudar outros países em desenvolvimento a sair da pobreza. A crise econômica iniciada em 2014, contudo, prejudicou essa visão: “O status cada vez menor do Brasil desde então pressionou o Itamaraty a se adaptar para suportar condições orçamentárias rigorosas, um ambiente doméstico mais complexo e o desafio das modernas ferramentas de comunicação. Até agora, a instituição tem sido errática em encontrar uma nova estrutura”, finalizam.

Leia o artigo na íntegra [em inglês].


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