ANESP

View Original

8 de março: gestoras debatem temas atuais da agenda pública

Para marcar o Dia Internacional da Mulher deste ano, conversamos com diversas EPPGGs a respeito de temas atuais e relevantes no debate público. Transformação do Estado, Concurso Público Nacional Unificado, segurança alimentar e nutricional, interseccionalidade, política de cuidado, mudanças climáticas, gestão de pessoas no serviço público e sindicalismo foram as temáticas de nossas perguntas. As contribuições das gestoras Elizabeth Hernandes, Celina Pereira, Lilian Rahal, Ana Julieta Teodoro Cleaver, Cida Chagas, Carolina Tokarski, Márcia Muchagata e Iara Alves evidenciam o quanto as mulheres da carreira de EPPGG têm a contribuir com questões fundantes e desafiadoras e como nos beneficiaríamos com uma visão interseccional na construção de políticas públicas, na promoção da equidade no funcionalismo público e na sociedade como um todo.

Abaixo, leia as contribuições das EPPGGs a respeito de temas da agenda pública atual, dos desafios em criar um ambiente de equidade de gênero e do papel das mulheres nestas questões:

Qual é a importância da participação das mulheres em espaços  sindicais do funcionalismo?

Elizabeth Hernandes, EPPGG e presidenta da ANESP: A participação das mulheres nos espaços sindicais é tão importante quanto sua participação no mercado de trabalho. Dá pra imaginar o funcionamento do mercado de trabalho, no mundo ocidental, por exemplo, sem a participação das mulheres? Se as mulheres fizessem uma greve total, como funcionaria o mundo do trabalho nesse dia? E, apesar da nossa posição estar plenamente consolidada no que tange à produção de bens e serviços, ainda ganhamos menos e somos minoria em cargos de decisão. Então chegamos na obviedade da participação da mulher nos espaços sindicais: tão importante quanto participar do mundo do trabalho é participar dos espaços onde se reivindicam direitos relacionados com o trabalho. Tão importante quanto trabalhar é reivindicar nosso espaço na arena das decisões.

Ocorre que, da mesma forma que nossa participação no mundo do trabalho é dificultada pelo acúmulo de tarefas que nos são impostas, o mesmo ocorre no mundo sindical. Quando estou atuando junto aos meus colegas representantes do funcionalismo federal, fica muito claro que pertenço a uma minoria numérica e ideológica. Olho em volta de uma mesa de tomada de decisões e há muito mais ternos que vestidos, há mansplaining, há machismo escancarado ou velado, há atitudes patriarcais no sentido lato. E o que fazer diante disso? Permanecer, insistir e, sempre que possível, dar uma aulinha de letramento de gênero, explicar que o mundo está mudando e que, apesar de todas as tragédias, está mudando para melhor. Essa mudança inclui o reconhecimento do direito das mulheres de participar, de modo paritário, da divisão de poder - então melhor eles se acostumarem porque nós não vamos recuar.

Qual é a importância da agenda de transformação do Estado para as mulheres?

Celina Pereira, secretária-adjunta da Secretaria Extraordinária para a Transformação do Estado do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI): Transformar o Estado é também tornar o serviço público com a cara da sociedade brasileira, para que ele seja capaz de entregar as políticas públicas com o conteúdo e o formato de que o Brasil precisa. É uma busca ativa e permanente por uma gestão pública mais diversa. Precisamos urgentemente de um Estado mais feminino!

Qual é a importância da política de segurança alimentar e nutricional para as mulheres?

Lilian Rahal, secretária nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS):  A prevalência da insegurança alimentar grave, fome, é maior entre as mulheres, especialmente negras e com filhos pequenos. Políticas de segurança alimentar que tratem de acesso e consumo aos alimentos devem ser vigilantes com mais essa desigualdade de gênero para que possamos superá-la nesse caminho de saída do mapa da fome.

Qual é a importância de se pensar políticas públicas interseccionais para as mulheres, em particular para as mulheres negras?

Ana Julieta Teodoro Cleaver, doutoranda em Sociologia pela Université Paris Cité e pela Universidade de São Paulo: Meninas e mulheres negras formam o maior grupo populacional brasileiro: são mais de 28% do total da população. São também as meninas e mulheres negras que vivem em seu cotidiano grande parte dos piores indicadores socioeconômicos. Somente políticas públicas desenvolvidas por, com e para meninas e mulheres negras poderão promover o enfrentamento às desigualdades estruturais no Brasil. Do contrário, seguiremos no faz-de-conta.


Qual é a importância da realização do Concurso Público Nacional Unificado (CPNU) para as mulheres?

Cida Chagas, diretora de Provimento e Movimentação de Pessoas do MGI e coordenadora do CPNU: No Concurso Público Nacional Unificado, tivemos 56% de inscrições vindas de mulheres. Esforços para alcançar uma representação equitativa de gênero são fundamentais para garantir uma administração pública mais inclusiva e democrática. O CPNU tem como um dos seus objetivos democratizar o acesso a cargos públicos do governo federal. Assim, ampliar a participação feminina nos quadros da administração pública se inicia já na entrada, na atração para o serviço público. 

Qual é a importância de se ter uma política de cuidado para as mulheres?

Carolina Tokarski, coordenadora-geral de Articulação Intersetorial na Secretaria Nacional da Política de Cuidados e FamíliaA organização social dos cuidados no Brasil é desigual, injusta e insustentável. As mulheres continuam sendo as principais responsáveis pelos trabalhos de cuidados, não remunerados e remunerados. A grande sobrecarga de trabalho doméstico e de cuidados não remunerado gera pobreza de tempo, cria e aprofunda barreiras para o exercício de outros direitos. Impede, por exemplo, a conclusão das suas trajetórias profissionais, o acesso, a permanência e a ascensão no mercado de trabalho e a plena participação na vida pública e política. Todo este quadro contribui significativamente para a reprodução da pobreza e das desigualdades, dentre elas, a de gênero.

O governo federal, por meio de um Grupo de Trabalho Interministerial, co-coordenado por Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) e Ministério das Mulheres (MM), está construindo um diagnóstico, uma Política e um Plano Nacional de Cuidados para que quem precisa de cuidado possa ter acesso a um cuidado de qualidade e para que quem cuida possa ter seus direitos, em todos os âmbitos da vida, respeitados.


Qual é a importância da Política de Mudanças Climáticas para as mulheres?

Márcia Muchagata, gerente de Projetos na Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional: Em uma sociedade altamente desigual, os impactos da degradação ambiental recaem desproporcionalmente sobre os mais fracos. A desigualdade de gênero no trabalho, na posse da terra e de outros recursos significa que as mulheres são afetadas de maneira particular e desproporcional pela destruição ecológica. Ass mudanças climáticas apresentam desafios que exigem cooperação entre diversos grupos com interesses, muitas vezes conflitantes. A falta de um olhar específico sobre essas diferenças dificulta o planejamento para evitar e mitigar riscos. Além de prioritária e intersetorial, a Política de Clima deve ter um foco na justiça climática e um olhar específico para as questões de gênero.

Qual é a importância da política de gestão de pessoas no serviço público para as mulheres?

Iara Alves, diretora de Educação Executiva da Enap: Para transformar a realidade de desigualdades, a presença de mulheres diversas na gestão pública é fundamental para que os interesses e opiniões de mais de metade da população sejam representados nas decisões sobre recursos públicos.


ÚLTIMAS NOTÍCIAS

See this gallery in the original post

See this social icon list in the original post