O mês da mulher negra e a gestão pública antirracista e antissexista

No último dia 25 foi celebrado o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha - e, aqui no Brasil, também é o Dia de Tereza de Benguela. Ao longo de todo o mês de julho, entidades e movimentos sociais seguem pautando o tema do racismo e da discriminação de gênero, que, em 2020, vem sendo permeado por uma nova situação: a pandemia de Covid-19. 

Diante dela, constatou-se que as desigualdades, tão profundas no país, ganham contornos mais visíveis. A população negra está mais exposta e morre mais pela Covid-19. Seguir as recomendações de distanciamento social é mais difícil para pobres e vulneráveis, e consequentemente para a população negra. As mulheres são 79% da força de trabalho da área da saúde, estando mais expostas aos riscos de contaminação, ao burnout e ao sofrimento psíquico e necessitam de apoio nos cuidados familiares, que muitas vezes recaem somente a elas.

Sobre as mulheres negras incide uma dupla discriminação: a racista e a sexista.

São muitos os dados que mostram o reflexo da falta de políticas públicas pensadas da perspectiva de gênero e raça.

Em 2009, as mulheres negras respondiam por cerca de um quarto da população brasileira. Entre 2014 e 2017, a taxa de desemprego entre as mulheres negras passou de 9,2% para 15,9%. Entre os homens brancos, a desocupação também cresceu, passando de 4,6% a 8,5%, mas os patamares ainda são bastante diferentes.

No Brasil, os assassinatos de mulheres negras aumentaram 54,2% entre 2002 e 2013. No mesmo período, houve redução de 9,3% dos assassinatos de mulheres brancas. 

Mulheres negras são ainda 62% das vítimas de morte maternas no Brasil. A possibilidade de reduzir essa taxa está diretamente relacionada ao acesso e à qualidade dos serviços de saúde ofertados. Ou seja, a maioria das mortes podem ser evitadas através de política pública adequada.

Os números preocupantes se somam à baixa representatividade de mulheres no espaço político e nas carreiras que formulam e executam políticas públicas. Atualmente apenas 5% dos vereadores e vereadoras são mulheres negras. Somente dez são prefeitas. No Congresso Nacional, 14 das 594 vagas são ocupadas por mulheres negras.

Neste mês da mulher negra, a ANESP reforça que para ser um(a) gestor(a) público(a) antirracista e antissexista é preciso ter uma perspectiva interseccional para produção de políticas públicas. 

Assista ao vídeo com depoimento da EPPGG Ana Julieta Teodoro Cleaver, uma mulher negra, feminista, antirracista.