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"O Sars-CoV-2 se transmite principalmente pelo ar" é o título de artigo na Folha

Por Vitor Mori, Pedro Pontual e Marcia Castro

urgência da vacinação e o colapso do sistema de saúde compreensivelmente têm estado no centro do debate. Porém, os hospitais seguem cheios porque a transmissão segue descontrolada. Boa parte disso decorre de um grave problema de comunicação pública. Os três níveis de governo não atualizaram a população sobre as formas de transmissão, e os brasileiros seguem acreditando que um frasco de álcool em gel e uma máscara de pano mal ajustada são proteção suficiente em locais fechados, mal ventilados e com muita gente.

Um levantamento do Observatório Covid-19 BR nos sites das 27 unidades da Federação voltados para a comunicação ao cidadão constatou que a maioria ainda enfatiza o risco de transmissão por superfícies ou objetos contaminados. Nenhum deles sequer menciona a importância da ventilação ou a diferença entre os riscos em ambientes fechados e ao ar livre. É desolador que, após as primeiras diretrizes emanadas do Ministério da Saúde no início de 2020, quando ainda se sabia pouco sobre o vírus, não tenha sido feito um esforço nacional coordenado de atualização desses protocolos e orientações ao cidadão.

Desde meados do ano passado, as orientações dos governos de EUA, Reino Unido, Japão, Itália e Israel levam a sério o risco de inalação de pequenas gotículas ou aerossóis que podem se manter em suspensão, especialmente em ambientes fechados e mal ventilados. Esse é o principal mecanismo de transmissão. Tais partículas podem ser produzidas pelo simples ato de respirar ou falar, antes do surgimento de sintomas como espirro e tosse. Além disso, quanto mais alto falamos, mais partículas emitimos. Elas podem ficar em suspensão por horas, especialmente em lugares fechados e mal ventilados. Nessas condições, a distância de 1 ou 2 metros pode ser insuficiente para a prevenção da infecção e inócuas medidas como a adoção de barreiras de acrílico.

Isso traz implicações práticas para governos estaduais e municipais: primeiro, os protocolos de funcionamento do comércio, de reabertura de escolas, ou de mitigação da transmissão em escritórios precisam necessariamente enfatizar a boa circulação de ar no ambiente.

No transporte público, há experiências no Japão e na Espanha que mostram que o contágio em ônibus e metrôs pode ser significativamente reduzido, contanto que os passageiros usem máscaras bem ajustadas ao rosto, as janelas permaneçam sempre abertas e eles tentem se manter em silêncio a maior parte do tempo. O retorno de certas atividades econômicas precisa priorizar espaços ao ar livre, onde o risco de transmissão é muito menor, uma vez que os aerossóis se dispersam rapidamente. São medidas mais relevantes do que o onipresente álcool em gel ou o “teatro de higiene” de lavagem e desinfecção de ruas que se viu em algumas cidades.

Diante do cenário crítico da pandemia no Brasil, a distribuição de máscaras de melhor qualidade deveria ser seriamente considerada por governos locais. Países como Áustria, França e Alemanha discutiram a adoção de máscaras do tipo PFF2 em todos os locais fechados e mal ventilados, como transporte público e comércio.

Garantidos esses insumos a todos os profissionais de saúde (incluindo os agentes comunitários de saúde), o acesso deveria também ser garantido à parcela da população mais exposta a locais aglomerados, bem como àqueles com maior risco de desenvolver um caso grave de Covid-19. Por fim, é inadmissível que não haja, no Brasil, nenhum parâmetro oficial a orientar consumidores para adquirirem máscaras de comprovada eficácia.

Ficamos meses com a coordenação nacional das ações de saúde à deriva, o que tem custado muitas vidas. A posse do novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, é uma valiosa oportunidade para não só acelerar o processo de vacinação e coordenar, em nível nacional, restrições de circulação neste momento da pandemia, como também orientar corretamente a população sobre as medidas de prevenção.

- Este artigo, publicado na Coluna Opinião da Folha, foi construído de forma coletiva pelo Observatório Covid-19 BR e pela Anesp (Associação Nacional dos Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental), que endossam as informações publicadas.


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