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Entrevista: EPPGG Rafael Mafra assume como adido da agricultura na Suíça

Experiência de quase 20 anos no serviço público, sendo dez como EPPGG, tendo trabalhado em órgãos do governo federal das áreas econômica, social e internacional. É com essa bagagem que Rafael D'Aquino Mafra desembarca, nesta semana, em Genebra, Suíça, para assumir o posto de Adido da Agricultura na Delegação do Brasil junto à Organização Mundial do Comércio e outras organizações econômicas em Genebra.

A nomeação de Mafra foi publicada por meio de decreto presidencial no Diário Oficial da União em 18 de dezembro de 2020, após um processo criterioso de seleção. A sua ida para a representação na Suíça está no contexto do esforço do governo brasileiro em ampliar de 25 para 28 o número de adidos agrícolas brasileiros junto às representações diplomáticas no exterior.

Os adidos têm o papel de identificar oportunidades, desafios e possibilidades de comércio, investimentos e cooperação para a agricultura brasileira. Para isso, têm interlocução com representantes dos setores público e privado, e interagem com relevantes formadores de opinião, na sociedade civil, imprensa e academia.

A ANESP entrevistou o EPPGG Rafael D'Aquino Mafra antes de sua mudança, quando ele nos contou detalhes do processo seletivo, o papel de um adido e os desafios que estão colocados tanto para um integrante da carreira de EPPGG quanto para um cenário mais amplo das negociações internacionais no campo da agricultura, agronegócio e exportações.

ANESP: Você pode nos contar como foi o processo de seleção para adido agrícola, junto às missões diplomáticas brasileiras no exterior?

MAFRA: Foi um processo de seleção relativamente curto, mas muito transparente e com múltiplas etapas. Houve a etapa de avaliação do currículo, na qual seria desejável buscar candidatos com experiência no tema, em cargos de chefia, experiência em missões de negociações internacionais e domínio de idiomas. Além disso, havia o critério de tempo de serviço público e tempo de Ministério da Agricultura. Tudo isso só na parte do currículo. Houve também uma etapa de redação e duas fases com entrevistas. Uma preliminar, que avaliava as competências emocionais. E uma entrevista final para o posto, que contou com a participação do próprio secretário de Comércio e Relações Internacionais do MAPA, do Ministério das Relações Exteriores e da Escola de Governo do Mapa (Enagro). A Enap fez as partes iniciais do processo de seleção e a fase final coube à coordenação dos adidos agrícolas do MAPA. Teve um aspecto interessante: nos tempos de pandemia, todas as etapas puderam ser feitas à distância. Então ficou mais fácil para os servidores do MAPA, fora de Brasília, participarem também, ampliando a gama de possíveis selecionados.

ANESP: Enquanto EPPGG, como você avalia que ser designado para essa posição contribui com a carreira?

MAFRA: É muito importante ser designado porque consolida o entendimento de que muitas políticas públicas têm um componente internacional, que pode e deve ser considerado nas atribuições da carreira. A designação para o cargo também reforça o entendimento de que a carreira permite que os EPPGGs mantenham sua mobilidade como uma possibilidade, mas que, em alguns casos, a permanência no mesmo cargo por um longo período, permite outras vantagens, como o exercício em posições que exigem um conhecimento mais profundo da cultura organizacional do órgão, de seus objetivos estratégicos e das suas políticas públicas mesmo. Também é interessante que essa designação seja parte do aproveitamento das habilidades e conhecimentos que desenvolvi na carreira e na minha formação. Estudei no mestrado e na especialização a questão das barreiras sanitárias. Trabalhei alguns anos na Anvisa avaliando a questão dos regulamentos do comércio internacional e trabalhei por anos no Ministério da Agricultura e Abastecimento com negociações internacionais. Participei de negociações na própria OMC, no Mercosul, com a União Europeia e até na ALCA. E, nesse período, todos os cursos da Enap, de negociação, por exemplo, foram úteis. Então, é uma continuidade da carreira, com bom uso das habilidades e atitudes desenvolvidas antes de entrar na carreira e depois que entrei também.

ANESP: Qual o papel de um adido agrícola representando o Brasil na OMC?

MAFRA: Seria mais preciso dizer que eu represento o ministério junto à missão do Brasil na OMC. Essa é a nossa função. Esse papel envolve a participação em mais de 17 fóruns diferentes, só na OMC, e, ainda, permite participar em outras organizações econômicas como a Organização Mundial de Propriedade Intelectual. Participar de cada um deles permite subsidiar o Ministério da Agricultura com informações precisas e correlacionar todas elas ao interesse maior, que é o de ter uma produção e uma exportação agropecuária robusta e sustentável. O Brasil tem hoje uma representação reconhecida internacionalmente por parte do Itamaraty e a presença de um adido reforça o olhar do Ministério da Agricultura e contribui com informações internas e uma articulação mais intensa com todos as áreas do Ministério da Agricultura.

ANESP: Qual é a agenda e os desafios atuais nesta posição?

MAFRA: Tem muita coisa em discussão hoje em dia. Os temas principais são a reforma da OMC, os subsídios agrícolas, o uso de medidas sanitárias e outros regulamentos, como barreiras técnicas. O maior desafio é fazer com que os interesses brasileiros sejam levados em conta em cada uma dessas discussões, perante o interesse de países e blocos com mais influência na organização. Para lidar com essa situação, precisamos de alianças com países que têm interesses semelhantes e de uma cooperação estreita entre todos os ministérios que tratam dos temas, de forma a ter posições bem fortes e embasadas.


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