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Deputados tratam fim do teto salarial

Reportagem do jornal "Correio Braziliense" fala sobre PEC aprovada na Câmara dos Deputados que acaba com o limite dos vencimentos no serviço público e dá ao Legislativo poder exclusivo de definir reajustes aos Três Poderes

A semana de recesso branco, em que os corredores do Congresso estão vazios e diversas reuniões foram canceladas por falta de quórum, acabou tornando-se a janela perfeita para deputados federais aprovarem sem alarde um projeto que acaba com o teto do funcionalismo público e transfere ao Legislativo o poder exclusivo de definir reajustes aos Três Poderes. A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 5 é uma espécie "libera geral" nos reajustes do setor público e estava parada na Câmara há um ano. Ela possibilitará ainda o segundo aumento de salário dos parlamentares em menos de dois anos.

A comissão especial que analisou o texto havia se reunido somente uma vez, há um mês. A reunião de ontem para votar a versão do relator Mauro Lopes (PMDB-MG) ao texto de autoria de Nelson Marquezelli (PTB-SP) não estava prevista até a noite de anteontem. No encontro, eles nem sequer leram o novo texto, passando direto para a votação. Com isso, evitaram que as inúmeras manobras acrescentadas fossem discutidas.

A PEC original fixava que o presidente da República, o vice-presidente, os ministros de estado, os senadores e os deputados federais passariam a ter salários idênticos aos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Ao fim da votação, o relator garantiu que a única mudança teria sido a inclusão do defensor público-geral federal na lista. O texto de Lopes, porém, contém mudanças em outros cinco pontos da Constituição, que alteram severamente a política de reajustes na administração pública.

Uma das alterações possibilita servidores públicos a acumularem remunerações até acima do teto do funcionalismo, estabelecido pelo salário dos ministros do STF. Na prática, quem tem vários cargos, recebe benefícios, pensões e aposentadoria, poderá somar todos os proventos sem limite, chegando a ganhar mais do que os próprios ministros.

Outra medida passa para os parlamentares o poder de designar aumentos aos ministros do Supremo. O mesmo já acontece para os salários de deputados, senadores, do presidente da República, do vice e dos ministros, definidos por decreto legislativo do Congresso, promulgado sem a necessidade de sanção presidencial. Com isso, a presidente Dilma Rousseff não poderá vetar reajustes abusivos ou que sejam incompatíveis com o Orçamento da União.

Autonomia em xeque
Para o líder do PSol, Chico Alencar (RJ), a mudança fere a autonomia dos poderes Judiciário e Executivo. "É preciso haver um filtro para evitar absurdos e uma solução seria estabelecer uma periodicidade fixa de quatro anos para o reajuste do teto, apenas com a reposição inflacionária", sugere. Alencar critica também o projeto em tramitação na Câmara que reajusta em 20,29% o salário dos ministros do STF, que passaria de R$ 26.723,13 para R$ 32.147,90. "É muita cara de pau querer um pagamento exorbitante desses em um país em que professores das universidades estão em greve porque recebem pouco", destaca.

A pressa dos parlamentares para votar a PEC, inclusive, tem relação direta com o projeto do STF. Caso ela seja aprovada antes, vinculando os reajustes de deputados e senadores aos dos ministros, o aumento do Supremo valerá para todos. Os parlamentares, portanto, terão o segundo aumento desde dezembro de 2010, quando deram a si mesmos um reajuste de 62%. "Essas armadilhas precisam ser analisadas com lente de aumento e qualquer aberração será contestada", conclui Chico Alencar. A PEC ainda precisa ser aprovada em dois turnos no plenário da Câmara e mais dois no Senado.

Fonte
Correio Braziliense – 21 de junho de 2012