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Planejadores de futuro

Reportagem do "Correio Braziliense" fala sobre os concursos para EPPGG. De acordo com o texto, papel estratégico da carreira pede profissionais diferenciados, que precisam passar por uma seleção longa e complexa antes de assumirem o cargo

Poucas carreiras no governo exigem um conhecimento tão amplo e apurado do Estado e do ciclo administrativo do país como a de especialista em políticas públicas e gestão governamental (EPPGG). O cargo, disponível para graduação em qualquer área, requer capacidade de execução e habilidade de mediação. Como executivo, esse servidor se dedica a atividades de formulação, implementação e avaliação de políticas estratégicas que desenham o futuro da nação em diferentes aspectos. Como mediador, deve estar apto a negociar com os poderes Legislativo e Judiciário e a lidar com conflitos de interesse entre o público e o privado. Candidatos a uma vaga de gestor governamental devem ter formação generalista. Ao mesmo tempo, é fundamental o conhecimento aprofundado das ciências sociais, econômicas e políticas, além de dominar as metodologias próprias de aplicação dessas disciplinas.

De 2000 para cá, foram realizados seis certames para o preenchimento de mais de 500 postos de trabalho. O processo seletivo tem ficado mais acirrado e exigente, e o cargo de EPPGG vem sendo almejado tanto por jovens que já passaram pela iniciativa privada quanto por servidores que trabalham para o Legislativo ou Judiciário. Embora não haja confirmação de uma nova seleção ainda em 2011, o Ministério do Planejamento continua com mais 500 vagas em aberto. O órgão espera preenchê-las no decorrer dos próximos anos. Aqueles que almejam uma dessas possibilidades devem começar a estudar o quanto antes, pois o conteúdo é extenso e a banca organizadora cogita fazer provas orais para as próximas seleções.

Segundo Álvaro Pereira Sampaio Costa Júnior, mestre em ciência política e coordenador pedagógico do Instituto de Gestão, Economia e Políticas Públicas (EGEPP) – que oferece cursos preparatórios para o certame –, o gestor tem um papel estratégico no âmbito federal. “Não é à toa que os organizadores do concurso buscam um profissional diferenciado, que tenha muito conhecimento conceitual e grande capacidade técnica, que saiba trabalhar com conflitos e suportar pressões”, avalia. Para Valmir Dantas, coordenador-geral da carreira e atualmente lotado no Ministério do Planejamento, os gestores profissionalizaram a administração pública, sendo responsáveis por dar continuidade a programas eficientes propostos pelo poder Executivo. “A medida que o processo democrático avança e amadurece, novos desafios surgem. O Estado deve ter servidores preparados para acompanhar e suprir as necessidades emergentes do país”, pondera.

O último concurso foi realizado em 2009 com provas elaboradas pela Escola de Administração Fazendária (Esaf). Cem novos gestores tomaram posse em janeiro último. “O conjunto de conhecimentos exigidos pela banca difere dos demais certames em relação à abrangência”, diz o coordenador pedagógico do IGEPP. A primeira etapa contas de duas avaliações realizadas em dias diferentes. As provas objetivas englobam matérias básicas como língua portuguesa, língua inglesa, conhecimento lógico-quantitativo, direito constitucional e administrativo. Além disso, a banca examinadora avalia domínios especializados em administração geral e pública, ciência política e economia.

Os candidatos aprovados no exame objetivos são convocados para segunda prova, que é discursiva. Costa Júnior explica que a avaliação subjetiva é um filtro, um teste para valorar a maturidade intelectual e gerencial do candidato. “O conteúdo de ciências políticas, por exemplo, é tão extenso e aprofundado quanto o que é ministrado em mestrados dessa área. Em economia, a mesma tônica. O candidato deve dominar micro e macroeconomia, além da economia do setor público, para responder as questões com propriedade”, observa. Dos 10 mil candidatos que se submeteram às provas objetivas da primeira fase do concurso passado, apenas 400 passaram para a segunda.

Segundo Costa Júnior, o grau de dificuldade das avaliações discursivas já é comparado ao do exame elaborado pelo Instituto Rio Branco, que seleciona e forma diplomatas para o Itamaraty. “Cogita-se que os próximos certames terão provas orais também. No último concurso, além de pequenas e médias dissertações, foi cobrada dos candidatos uma análise de caso. Os que passaram se submeteram a uma prova de títulos e de experiência de trabalho comprovada, podendo ser gerencial ou não”, recorda.

Leitura objetiva
Gestores recém-empossados observam que a Esaf tem dado ênfase em ciência política. O gestor governamental João Francisco Araújo Maria foi aprovado no último concurso e hoje atua como professor dessa matéria. “O processo de leitura deve ser feito objetivamente, ponto por ponto do edital, porque a bibliografia é enorme. A Esaf tem tendência a cobrar conceitos. Sugiro que o concurseiro mapeie e fiche o conteúdo porque a banca procura explorar o máximo possível dele”, orienta. Os candidatos aprovados na prova objetiva são convocados para um curso de formação na Escola Nacional de Administração Pública (Enap). “Ele tem caráter eliminatório e classificatório. Quem chega na frente tem direito a escolher onde quer atuar dentro das disponibilidades”, lembra o gestor.

A dentista Tatiana Brandão, 37 anos, pretende estar na Enap no próximo concurso. Para isso, ela se prepara desde maio de 2010. Como o conteúdo é completamente novo para uma profissional da área da saúde, ela percebeu que teria de se dedicar por mais tempo aos estudos. A disciplina foi o caminho escolhido. “Para que eu conseguisse mergulhar em toda a extensão dos tópicos cobrados no último certame, estabeleci uma rotina. Dedico-me aos livros de manhã e à tarde em uma biblioteca. Faço esquemas e resumos para fixar a matéria e, uma vez por semana, me reúno com colegas para tirarmos dúvidas e debatermos os temas”, diz.

Fonte
Correio Braziliense – 19 de setembro de 2011