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No Valor, Gaetani debate IA e campanhas políticas

Foto: John Schnobrich na Unsplash

“Se um candidato presidencial fizer uma declaração ilegal ou inadequada, ela ou ele poderá simplesmente afirmar que a gravação é falsa, ampliando a dúvida central: é autêntica ou falsa a declaração, é real?”. Com esse questionamento, o EPPGG aposentado Francisco Gaetani, em coautoria com Virgilio Almeida, inicia o debate central do texto que assina no Valor Econômico: qual será a influência das novas tecnologias – em especial as de inteligência artificial (IA) – nas próximas campanhas políticas? Para os autores, o cenário é de incerteza; contudo, como conclusão à cena hipotética supracitada, para além da declaração ser falsa ou verdadeira, está a erosão da confiança pública na integridade dos fatos – essa sim uma questão crítica para as próximas eleições ao redor do mundo.

Os autores sugerem que um olhar atento para as preparações das eleições nos Estados Unidos e na Índia pode ajudar na avaliação do papel dessas tecnologias emergentes nas próximas eleições brasileiras. Afinal, a corrida presidencial de 2024 será a primeira eleição norte-americana com o uso generalizado de ferramentas de inteligência artificial, que podem cada vez mais apagar as fronteiras entre realidade e ficção: “Sinais da presença da IA na cena política americana já estão aparecendo. Após o anúncio de Biden confirmando a disputa pela reeleição em 2024, o Comitê Nacional Republicano lançou imediatamente um vídeo com imagens produzidas por IA retratando um futuro distópico caso Biden vença. O vídeo mostrou imagens aparentemente realistas de pânico em Wall Street, China invadindo Taiwan, imigrantes pressionando em massa as fronteiras americanas e uma intervenção militar em São Francisco, em meio a uma crise de crimes graves”.

Porém, ponderam os autores, as tecnologias de inteligência artificial também podem trazer benefícios significativos para as campanhas eleitorais, a começar pelas possibilidades de redução de custos operacionais, automatizando o trabalho braçal de campanha: “As barreiras à entrada na política diminuiriam muito, o que por si só deveria ser uma coisa boa, considerando-se as vantagens que incumbentes possuem a partir de suas posições de poder”, refletem.

Por fim, Gaetani e Almeida sublinham a necessidade de se discutir um projeto de lei de regulação de IA, que pode abrir espaço para uma ampla discussão envolvendo múltiplos setores da sociedade, num debate que leve a proposição de limites éticos e legais para o uso dessas tecnologias em temas críticos como eleições, saúde, dados pessoais e privacidade, dentre outros. “A democracia é a forma como nos organizamos e gerenciamos a vida na sociedade. A inteligência artificial já está afetando-a. Cabe a todas e todos comprometidos com os valores democráticos buscar compreendê-la e priorizar sua regulação na pauta das prioridades nacionais”, concluem.

Francisco Gaetani é professor da Ebape-FGV e secretário Extraordinário de Transformação do Estado no MGI, e Virgilio Almeida é professor associado ao Berkamn Klein Center da Universidade de Harvard. Leia o texto na íntegra.


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