Em memória - Tito Fróes
Em outubro deste ano, a carreira perdeu um de seus integrantes mais marcantes. Tito Fróes nos deixou precocemente, fazendo crescer a saudade entre as pessoas com que conviveu.
Para marcar sua memória e lembrar trechos de sua história, a ANESP abre esse espaço em homenagem a Tito. Aqui, colegas de serviço público contam momentos que tiveram com o EPPGG e que ajudam a ressaltar algumas de suas principais características. Ao longo dos textos, imagens cedidas por amigos próximos relembram com carinho momentos que deixaram sorrisos.
Alberto Lourenço (EPPGG - 11ª turma)
“Tito
Meu amigo do peito Tito Fróes era uma criança. Nasceu criança, era criança e, tivéssemos a graça de tê-lo até que o tempo o pintasse de branco, Tito seria uma criança grisalha. Rosto de menino travesso, ria, gargalhava com a facilidade das crianças. Dentre todos os seus ângulos: o colega generoso que sabia tudo e socorria os colegas nas agruras do labirinto burocrático; o organizador das ações coletivas da G11; o justo lapidador da estrutura da carreira, dentre todos os ângulos, o mais belo era Tito, o pai.
Por ser criança na alma, Tito era um pai sem igual. Perdi meu pai muito cedo. Por isso reparo em pais. Muitos homens são bons pais: amam e protegem os filhos, mas poucos têm real e profundo interesse por crianças. Tito era melhor porque era híbrido: um pai criança, uma criança pai. Brincava com o Joãozinho como fossem amiguinhos de infância. Não o vi com Camila, mas sei que se derretia como os pais e se iluminava como só outra criança. Tito era torcedor do Galo e, como tal, fiel e eterno. O convido para um jogo do Galo no Bezerrão e Tito me aparece, Joãozinho no colo, então com perto de um ano de idade! Feliz por cumprir a sagrada missão de passar o estandarte alvinegro à frente. A outros jogos fomos, sempre com o João, que “seria centro-avante do Galo logo logo”.
Tito furou a fila. Penso em sua alegria de criança e me basta. Penso na Amanda e sei que ela segue, forte e alta. Penso no pai de João e Camila e me corta o coração o assombro de tamanha perda.”
Cristiano Heckert (EPPGG - 10ª Turma)
Em novembro de 2018, a Anesp lançou processo seletivo para a formação de lista tríplice de candidatos a ocuparem a posição de Secretário de Gestão (Seges) no governo que se iniciaria no ano seguinte. Ao participar do processo, gravei vídeos e escrevi textos, que circulei aos colegas EPPGG como material de campanha. Em um deles, elogiei algumas ações tomadas pela Seges nos meses e anos anteriores, como o censo da carreira, o mapeamento de competências e o banco de talentos. O elogio foi feito em meio a outros comentários e propostas nos quais eu apresentava o que considerava pontos positivos, que deveriam ser preservados e expandidos, bem como oportunidades de avançarmos em outros aspectos. Não tinha nenhuma pretensão específica em relação a esses pontos, que, como disse, foram comentados em meio a outros. Qual não foi então minha surpresa ao receber uma ligação do Tito, agradecendo-me pelos comentários feitos. Algumas semanas depois, após ser confirmado no cargo, pude telefonar para ele e convidá-lo a permanecer à frente da Coordenação-Geral de Carreiras Transversais da Seges. Sua resposta: “aceito porque acredito no trabalho que estamos fazendo”. Duas breves conversas ao telefone, que reforçaram minha percepção do caráter e do compromisso do Tito com o trabalho, mesmo antes de poder conviver com ele cotidianamente e comprovar essas impressões.
Francisco Gaetani (EPPGG - 1ª Turma)
“Tito
Conheci Tito mais de uma década atrás. Fui convidado para dar uma palestra em Mato Grosso. O estado tinha criado uma carreira de gestores que, a exemplo do que ocorreu em outros estados, não foi para frente. Só me lembro de três coisas: do calor, da canseira que um grupo de gestores estaduais me deu numa “conversinha” depois da conferência e de um gordinho simpático que tinha todas as perguntas certas.
Anos depois, quando assumi por um breve período a Secretaria de Gestão no falecido Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, reencontrei Tito. Ele havia feito concurso para gestor e passado. Fiquei emocionado e muito feliz. Passamos a ser colegas de carreira e sempre tivemos um relacionamento muito legal. Eu bem que o provocava. Mas ele sempre tinha uma saída bem humorada.
Those were the days. Me lembro que quando o Congresso derrubou a Medida Provisória da “SEALOPRA” – a Secretaria de Assuntos Estratégicos que seria ocupada por Mangabeira Unger – tivemos que lidar com centenas de cargos que já tinham começado a ser ocupados, que subitamente foram extintos. Sob a liderança do Emura, Tito, Marcelo, Luiz e outros fizeram mágicas para terminarmos o ano em ordem.
No Ministério do Meio Ambiente, a meu convite, Tito juntou-se à equipe do Fauze em posição que improvisada, para nos ajudar a colocar aquela exótica instituição para funcionar em bases mais profissionais. Foi um tempo bom. Levamos uma surra dos ambientalistas da casa. Mas aprendemos muito. E saímos bem.
A partir daí perdemos o contato direto. Soube que ele estava cuidando dos gestores, nosso colegas de carreira. Ninguém merece. Mas Tito tinha uma paciência e um coração que acolhia todo mundo, muito além do que era razoável. A gestolândia é inadministrável – achava eu. E lá estavam Tito e Soraya fazendo o melhor que podiam para que a carreira servisse ao Estado brasileiro da melhor forma possível, ao mesmo tempo em que buscavam considerar os interesses e necessidades dos colegas.
Não me lembro bem de quando – provavelmente na época do meio ambiente – ensaiamos nadar. Era um esporte que fazia bem a ambos, na eterna briga com o peso e com o sedentarismo. Não deu. Agora vai ser mais difícil. Ele vai ter que esperar um pouco. Tenho a sensação de que ele furou a fila. Foi embora cedo demais. Aquele sorriso, aquela bonomia, aquela confiança de que as coisas se ajeitariam ... se foram com ele.
Talvez de lá – onde quer que seja este lugar - seja mais fácil ele zelar pela alocação dos gestores, profissionalização da administração pública e melhoria do astral geral do mundo. Tomara. Vamos continuar precisando dele. Muito.
Chico Gaetani “
Mariana Boabaid Dalcanale Rosa (EPPGG - 14ª Turma)
"Conheci o Tito na Enap, num dos cursos de aperfeiçoamento da carreira. Ele havia recém assumido o cargo de Coordenador-Geral da CGCAT e estava muito entusiasmado com o desafio. Ali surgiu nossa amizade e minha admiração por ele. Sempre muito solícito, paciente e aberto a ouvir, Tito tinha um otimismo e um astral incomparáveis. Era um profissional exemplar e muito humano, com genuíno interesse pelas pessoas. Sua partida precoce é uma perda inestimável, mas seu legado continuará sempre presente."
Mauro Gadelha (EPPGG - 11ª turma)
“Falar do Tito é lembrar:
- do seu bom humor em todas as horas;
- do largo sorriso;
- do grande profissional, competente e dedicado;
- do companheiro dos EPPGGs;
- do companheiro da 11a turma;
- do amor que ele tinha pela família;
- do amor pelo clube de coração.
Tito já deixou saudades pela partida super prematura e espero que a família se una ainda mais fortemente, porque a dor é aguda e insuportável para todos, especialmente para as crianças. Quem tem filhos menores particularmente se identifica com este sofrimento.
Tito, eterno Tito, você ficará na memória de todos nós pelo grande cara que você foi e continua ser em nosso corações!!
Muita força espiritual e união de toda família é o que desejo de coração."
Regina Luna (EPPGG - 2ª Turma)
“Gostaria de compartilhar como conheci o Tito.
Fomos colegas de graduação na UnB. Entrei em 1986 e ele já era "veterano", engajado nas atividades acadêmicas, intra e extraclasse.
Resolvi participar da Serenata de Natal (em 86 e 87) e, como ele era um dos coordenadores da mesma, acabamos nos conhecendo nos ensaios do repertório em 1986. Eu era primeiro-soprano; ele, tenor. Foi super-divertido participar das apresentações e repeti a dose no ano seguinte.
Em 1987, houve o acidente com o isótopo Césio-137 em Goiânia. Até hoje, é difícil não lembrar de todo o desespero e ansiedade que causou - imagina a Secretaria de Saúde do estado fazer triagem dos suspeitos de contaminação no Estádio Olímpico!
Mesmo com toda a mobilização das autoridades para minimizar o estrago, pelo diferente gradiente de exposição ao isótopo, diversas vítimas não sobreviveriam, sendo o caso de terem apenas os cuidados paliativos.
Havia alguns colegas de Serenata de Goiânia e, não raro, com algum grau de relacionamento com as vítimas e seus familiares, que nada mais podiam fazer a não ser esperar pelo desfecho desfavorável da contaminação (lembra de Chernobyl? Pois então - nem acompanhamento ou visita era permitido...).
Nessa época, Tito veio com a sugestão: "E se levássemos a Serenata a Goiânia?".
Rapidamente a ideia ganhou adeptos no coral (eu entre eles). Tito e os demais coordenadores entraram em contato com a prefeitura de Goiânia e a direção do Hospital em que as vítimas estavam sendo cuidadas.
Pois então - foram 4 ônibus de universitários saindo de madrugada da Colina para Goiânia. Reza a lenda que havia uma meia dúzia de garrafões de Sangue de Boi circulando entre os ônibus, mas nada restou provado. O fato é que chegamos a Goiânia, cantamos muito alegremente em dois lugares antes de nos dirigirmos ao Hospital.
Chegando lá, tivemos que nos organizar no estacionamento traseiro para podermos nos apresentar. Os pacientes vieram para as janelas da área de isolamento e todos cantamos a plenos pulmões. Tito foi o fotógrafo oficial do evento.
Anos e anos depois, reencontramo-nos na Esplanada, na SEGEP/MP. E ele me presenteia com a melhor das lembranças: uma foto minha naquela apresentação longínqua em 1987. Impossível não aquecer o coração com isso.
Meu amigo, esteja onde estiver, continue brilhando e irradiando essas boas vibrações, como naquele dia, com a canção que o Oswaldo (Montenegro) compôs para nossa apresentação em Goiânia: "(...) já é noite em Brasília/ e eu pensei que era normal/ a cabeça estar vazia/e eu não me sentia mal”.
Silvio Roberto Pereira da Costa (EPPGG - 11ª Turma)
“O último dia para as inscrições no PCLD de 2019 era domingo. Estava tudo pronto, mas na sexta à noite, no escritório, eu descobrira que não tinha cadastrado senha do SEI para protocolar o pedido. Pensei: não tem problema. Eu mando por email. Princípio da instrumentalidade das formas. Mas vou confirmar com o Tito, por via das dúvidas.
Falo com o Tito. "Não tem essa de instrumentalidade das formas. Vale o que está no edital”. Pensei comigo: " vinculação ao instrumento convocatório... um gestor deveria saber isso. E não deveria deixar para o último dia.” No sábado mesmo, Tito e equipe fazem meu cadastro no SEI e eu consigo encaminhar o pedido dentro do prazo.
"É por causa de colegas como você que a gente tem que vir trabalhar no sábado". O Tito ainda mandou essa. Deve ter visto meu sorriso envergonhado pelo telefone.
"Obrigado, Tito! Vou colocar seu nome nos agradecimentos da minha dissertação de mestrado". E ele me responde: "de jeito nenhum! Temos que manter a impessoalidade. O que eu fiz por você faria por qualquer colega!".
Tito. Um profissional de princípios.”
Soraya Brandão (EPPGG - 11ª Turma)
“Meu amigo e parceiro Tito
Eu e Tito tivemos uma trajetória profissional similar na administração pública. Ambos fomos EPPGG de carreiras estaduais (ele em Mato Grosso e eu na Bahia) antes de entrarmos para a 11ª turma de EPPGG do Governo Federal em 2006.
A nossa primeira alocação, cheia de expectativas, foi na Secretaria de Gestão - SEGES do antigo Ministério do Planejamento, mas em departamentos diferentes. A partir daí, seguimos caminhos distintos até que em 2015, novamente na SEGES, nos juntamos em torno do desafio de aperfeiçoar a gestão da carreira de EPPGG. Juntos fizemos muitas coisas: demos transparência às regras de movimentação da carreira, “distensionamos” a relação entre a SEGES e os gestores, voltamos a oferecer de maneira regular vagas de afastamento para pós-graduação stricto-sensu, realizamos as pesquisas censo de trajetória profissional e o mapeamento de competências da carreira, buscando promover uma gestão baseada em dados e evidências e emplacamos o desenvolvimento de um sistema de gestão de carreiras (ainda não finalizado). Mas acima de tudo, formamos uma equipe coesa, feliz e orgulhosa de seu trabalho e criamos um espaço para que os servidores se sentissem acolhidos e pudessem ser ouvidos.
Tito era acima de tudo, um grande amigo. Sempre me apoiou nos meus projetos e, genuinamente, sempre me deu espaço para crescer profissionalmente. Éramos parceiros em tudo. Não concordávamos sempre, mas o respeito mútuo e a nossa amizade foram sempre inabaláveis.
Obrigada, parceiro! Sem você não teria sido tão bom!
Saudades para sempre.
Soraya”