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Segura o dólar

No campo da economia, acontece diariamente um fenômeno, quase futebolístico, que mexe com o imaginário de milhares de brasileiros: a disputa de câmbio “Real x Dólar”. Motivados pelo nacionalismo, para os mais leigos, a recente valorização da moeda verde-amarela é muito boa. Parece uma goleada no adversário. Entretanto, o que é motivo de alegria para uns, é de preocupação para outros. Segundo o secretário-adjunto de Políticas Econômicas do Ministério da Fazenda, o EPPGG Dyogo Oliveira, um dos pontos mais alarmantes para o governo em 2010 será justamente o combate à excessiva valorização da moeda brasileira.

Apesar de parecer um “gol contra”, o alerta tem sentido. No âmbito econômico, às vezes, os ganhos também causam prejuízos. Em relação à taxa de câmbio, os maiores temores derivam da ineficácia das atuais ações feitas pelo governo na tentativa de segurar a queda do dólar. “O capital estrangeiro tem entrado bastante, tanto que derrubou nosso câmbio [o preço do dólar] consideravelmente”, comenta o gestor.

A queda impressiona. Em aproximadamente seis meses houve variação de quase R$ 0,65 na cotação do dólar. Em dezembro de 2008, a moeda norte-americana custava cerca de R$ 2,50. A previsão dos analistas é de que ela fecharia 2009 perto de R$ 2,00, mas, desde julho, ela está na casa de R$ 1,80.

A valorização traz algumas consequências negativas para a economia. Uma delas é o impacto na balança comercial brasileira. Com o real mais caro, os produtos nacionais exportados perdem competitividade. Além disso, internamente, o importado fica mais barato, afetando diretamente os produtores do País. “O governo tem feito, tem comprado [dólares], mas isso não tem sido o suficiente”, afirma o secretário-adjunto.

Outra consequência diz respeito à capacidade brasileira de saldar sua dívida pública líquida. O governo tem ativos fixados na moeda estrangeira. Então, a desvalorização do dólar faz com que o Brasil “perca dinheiro”, o que afeta sua credibilidade para solvência da dívida. Segundo estimativas do Banco Central, apenas a recente valorização do real já foi responsável pelo aumento de R$ 63,1 bilhões da dívida pública brasileira.“Ela sofre muito com o efeito cambial e é importante controlá-la para ter uma politica fiscal consistente no longo prazo. Você transmite aos agentes econômicos que a economia está estabilizada”, explica o EPPGG.

Recuperação, mas com cautela
Para Oliveira, é inegável que o País se mostra cada vez mais recuperado da turbulência econômica. Alguns dados do Ministério da Fazenda corroboram a afirmação do gestor. O nível de utilização da capacidade instalada, por exemplo, atingiu patamares de 87%, no ano passado. No auge da crise, o indicador caiu para 77%. Agora, está em pouco mais de 81%.

Já a média diária de fabricação de veículos esteve em 14.900 unidades em agosto do ano passado – período em que o Brasil acumulava recordes históricos de produção. Em dezembro do mesmo ano, o número caiu para 4.400. Em 2009, com as políticas de incentivo (parte delas elaborada pela equipe do gestor) e a consequente recuperação brasileira, foram produzidas 13.900 unidades em junho.

Apesar dos números positivos, Oliveira ressalva que estes são apenas alguns setores que, por terem sentido mais o impacto da crise, receberam maior apoio da política econômica e responderam bem aos incentivos, mas “quando você olha no agregado, no panorama geral, ainda estamos longe dos níveis que estávamos em 2008.”

Ainda na marola
Se para alguns segmentos a crise parece estar passando, para outros, ela ainda causa efeitos. É o caso do de Bens de Capital (materiais usados na produção, como máquinas e equipamentos).

Para se movimentar, o setor precisa que as empresas voltem a comprar insumos produtivos, mas a falta de confiança ainda afeta os investimentos. Contra esses obstáculos, porém, algumas medidas de estímulo já foram providenciadas. “Então, o que fizemos? Uma linha de financiamento [para compra de máquinas e equipamentos de produção] com 4,5% de juros e até 10 anos para pagar; os fundos garantidores de crédito para pequenas empresas; o fundo garantidor naval; desonerações de impostos para diversos setores, como a redução do IPI do material de construção e Bens de Capital; entre outras”, comenta.

Fonte
Assessoria de Comunicação ANESP